A entrevista de Moro tem tudo para ser um desastre. Por Fernando Brito

Atualizado em 5 de novembro de 2018 às 8:43
AFP / MAURO PIMENTEL Sergio Moro (L) and Economist Paulo Guedes gesture as they leave the home of Brazilian president-elect Jair Bolsonaro in Rio de Janeiro

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

A entrevista convocada para terça-feira pelo sr. Sérgio Moro, a não ser que dê voltas sobre generalidades, será um momento para começarmos a descobrir se teremos um governo único ou, afinal, uma federação de feudos, sobre a qual brilhará uma figura demagógica, a fingir uma autoridade que se dedicará a promover-se com apelos patrióticos, religiosos e autoritários.

Afinal, dos “superministros” anunciados até agora, não se conseguiu saber rigorosamente nada sobre os planos que serão implementados a partir de 1° de janeiro.

Paulo Guedes, o ‘posto ipiranga’ da economia foi desautorizado pela enésima vez na quinta-feira sobre uma CPMF que substituiria a contribuição previdenciária patronal. Onyx Lorenzoni, o chefe da Casa Civil, também vetou as pretensões de aproveitarem-se partes do atual projeto de reforma previdenciária e o general Hamilton Mourão deu um pontapé na proposta “oferecida” pelo queridinho do “mercado”, Armínio Fraga.

Será que Moro será o primeiro a anunciar algo de concreto?

Não se imagina que ele seja capaz de anunciar uma política nacional de Segurança Pública, o que deveria se a primeira preocupação da nova e superpoderosa pasta. Nem que possa definir quais são as peças do “pacote anticorrupção” com que ele estrearia no jogo. Acaso vai falar da liberação da venda de armas de fogo, a mais vistosa das propostas de seu novo chefe? Difícil.

De quinta até amanhã, fechado em seu mundinho curitibano, com quem terá discutido – já nem digo o mérito, mas a viabilidade política – um conjunto de propostas concretas para o setor? Com Deltan Dallagnoll? Com seu amigo Zucolotto? Com a querida Rosângela “Moro com Ele”?

Mesmo a “grande obra” de acabar com a presunção de inocência e tornar obrigatória a prisão após sentença de 2a. instância – além da péssima imagem pública de que se trata de uma decisão “personalizada” para ajudar Bolsonaro a cumprir sua promessa de fazer Lula “apodrecer na cadeia” – é matéria que exige mudar a Constituição e isso não é tão simples quanto assinar um mandado de prisão.

Ao que tudo indica, portanto, não será uma entrevista para mostrar planos, mas para mostrar as garras.

Mas o evento tem tudo para dar errado e nada para agregar algo de positivo a esta montagem.

As explicações que lhe serão mais cobradas não serão sobre seus planos, mas sobre seus atos e suas juras de que não entraria para a política.

E sobre seus planos não para a Segurança, mas para uma cadeira no STF e para as eleições de 2022.

Vai ter de se equilibrar para não exacerbar as contradições entre o papel que teve nas eleições e o que terá no governo. E para afirmar que aceitou o cargo porque recebeu garantias de Bolsonaro de que será “o rei do pedaço” e que, portanto, é ele e não o eleito que governará esta área.