A entrevista de Michel Temer à repórter Sonia Bridi, no Fantástico, só não decepcionou porque não se deveria esperar mesmo nada dela.
O objetivo claramente foi promover Temer, mas eis uma tarefa impossível. Temer não tem nenhum carisma. É um anão político.
Não sei o quanto Sonia deve ser criticada, uma vez que Mariana Godoy afirmou que todas as entrevistas deste gênero são previamente elaboradas por Ali Kamel, diretor de telejornalismo da Globo e autor do livro Não Somos Racistas.
Houve cenas involuntariamente engraçadas na entrevista. A mais dela foi quando foi perguntado a Temer as razões da ausência de mulher em seu ministério de “notáveis”.
Apareceram então imagens de uma reunião da equipe de Temer em que havia uma multidão de homens.
Em seu português de advogado de filme da década de 1940, Temer iniciou sua resposta dizendo discordar de que não haja mulheres.
Citou uma chefe de gabinete como se fosse prova do reconhecimento à importância das mulheres. Acrescentou que representantes femininas deverão aparecer em secretarias surgidas da supressão de ministérios.
Não serão ministras, portanto. Mas secretárias. É um rebaixamento evidente. (A primeira tentativa de recrutar uma secretária foi frustrada com a recusa de Marília Gabriela.)
Eduardo Cunha, o homem a quem Temer deve o cargo, apareceu na conversa. Temer mostrou, perdão pelo trocadilho, temer Cunha.
Disse que para ele é “absolutamente indiferente” se Eduardo Cunha for definitivamente afastado da Câmara dos Deputados ou não.
Ora, ora, ora.
Um governo supostamente nascido do combate à corrupção – pausa para gargalhada – não se importa com o destino do símbolo supremo da corrupção, o psicopata Eduardo Cunha.
A mensagem não poderia ser pior. Fica escancarado o caráter hipócrita, indecente da nova administração. Isso já se percebera quando foi anunciada a equipe ministerial, com sete nomes investigados na Lava Jato.
Um deles é Romero Jucá, que aparece não apenas na Lava Jato como na Operação Zelotes. Nesta, ele é investigado pelo STF por suspeita de, como senador, vender medidas provisórias de interesse da indústria automobilística.
Depois de fazer um elogio desmedido do talento de Jucá, Temer disse que ser investigado não significa nada. Numa nova administração, é o oposto. Significa tudo. Ou deveria ser. Mas não para Temer.
Fica exposta aí sua incompetência, sua miopia, sua estupidez. Todo novo governo deve produzir um choque positivo para elevar as esperanças da sociedade.
Temer fez o contrário: deu aos brasileiros um choque negativo.
No plano das palavras abstratas, ele falou em cortes de despesas que sugerem uma gestão neoliberal. Mas um momento: os brasileiros não votaram, um ano e meio atrás, nisso – um receituário neoliberal.
Ele terminou afirmando que quer pacificar o país. Como, se ele é o retrato acabado da desunião, um vice que não hesitou em se juntar a uma conspiração assim que enxergou a chance de ter direito a seus quinze minutos de fama (ou de Fantástico)?
Sinal disso, a entrevista foi recebida com apitaços, panelaços e vomitaços em várias partes do Brasil.
Há uma única maneira de Temer contribuir para a pacificação nacional: desaparecendo de um cargo para o qual não recebeu um único voto e ao qual chegou por uma trama suja e sinistra.