Atenção: contém spoilers.
Seth Rogen fez um filme lotado de referências nerds satirizando o ditador comunista norte-coreano Kim Jong-Un. Foi desta forma que o diretor e ator transformou “A Entrevista” no longa de maior sucesso do final de 2014. Entre uma piada e outra envolvendo personagens de “Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”, você consegue dar umas risadas de um líder totalitário que é fã de Katy Perry. Mas não espere nada além de humor grosseiro.
Em novembro, crackers do grupo “Guardians of Peace” invadiram computadores da Sony, revelando detalhes sigilosos do filme, entre outros documentos. O governo norte-coreano é acusado de ter relação com o grupo, além de ter ameaçado a Sony Pictures pelo filme incentivar supostamente o “terrorismo”.
A empresa decidiu não exibir nos cinemas. O presidente Barack Obama condenou a postura agressiva do governo de Kim Jong-Un e instou a Sony a peitar as ameaças. A produtora voltou atrás e divulgou o filme na internet por 6 dólares para download.
Em quatro dias na rede, The Interview rendeu 18 milhões de dólares mesmo com a pirataria de downloads ilegais via torrents.
O DCM conferiu o filme. Pare de ler aqui se você se importa com spoilers. O protagonista é um apresentador de TV chamado Dave Skylark, interpretado pelo caricato James Franco, personagem que mistura os apresentadores David Letterman e Jimmy Fallon. Ele é acompanhado por seu produtor Aaron Rapoport, que é encarnado pelo próprio Seth Rogen.
Rapoport se sente menosprezado por colegas de profissão por fazer um programa de talk show com Skylark tipo tabloide, sobre fofocas de celebridades. O próprio filme abre com uma entrevista em que o rapper Eminem revela que é homossexual.
Dave Skylark descobre, junto com Aaron Rapoport, que o ditador Kim Jong-Un é fã do programa. E enxergam nesta entrevista uma oportunidade do programa ser levado mais a sério, pois seria o primeiro depoimento concedido a um programa americano.
Os dois heróis atrapalhados são convencidos pela CIA a participar de um plano secreto para tentar assassinar o governante com veneno. Já em Pyongyang, a capital, eles ficam em dúvida se realmente devem matar Kim Jong-Un, que os recebe de maneira triunfal.
O filme tem sequências engraçadas, como a brincadeira com a propaganda falsa do regime, a falta de transparência caricata e as lojas falsas de conveniência nas cidades. Mas nada dentro do longa ofende realmente a Coreia do Norte, pois são estereótipos de um país que não é aberto ao restante das nações globalizadas.
Kim Jong-Un é retratado como um fã de música pop, viciado em tanques soviéticos stalinistas e amante de charutos. Com costumes excêntricos, o líder parece um adulto mimado, o que não destoa totalmente da vida real.
“A Entrevista” não é mais ofensivo do que o que foi feito com Fidel Castro em “Scarface”, por exemplo.
No entanto, o filme de Rogen não tem nada do brilhantismo de “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, uma paródia de Hitler e do nazismo. Sua caricatura do autoritarismo norte-coreano é um pastiche com recortes de outras obras da cultura popular internacional que dão certo nas telonas.
Kim Jong-Un deveria talvez prestar atenção no que seu próprio personagem caricatural diz no longa-metragem: “Sabe o que é pior do que bombas atômicas? Palavras”.
A troca de ofensas entre Obama, Kim e os invasores na internet transformaram a comédia mediana de Rogen em um filme censurado por tratar sobre o autoritarismo recluso que existe na Coreia do Norte. A restrição inicial aumentou o alcance do longa quando ele finalmente foi disponibilizado para o público, transformando-o em um sucesso comercial a ponto de esgotar os ingressos nos Estados Unidos.
Falar sobre comunistas nos Estados Unidos faz sucesso. Ainda mais se você provocar confusão na internet. Aí é certeza de que você vai chamar atenção até de quem nem estava interessado no assunto.