A estratégia da China para reduzir poluição pela metade em 7 anos

Atualizado em 10 de setembro de 2024 às 13:10
Estátua de panda em Pequim em um dia limpo e num dia poluído em 2017

Na última década, a China registrou uma impressionante melhoria na qualidade do ar, com uma redução de 40% na quantidade de partículas nocivas entre 2013 e 2020, segundo um relatório do Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago (EPIC). Este resultado, baseado em medições via satélite, representa o maior declínio de poluentes em um período tão curto já registrado. “Essa é uma conquista notável em termos de saúde pública”, afirmou Christa Hasenkopf, coautora do estudo, à BBC.

A transformação começou em 2013, quando a China enfrentou níveis alarmantes de poluição, com a média de partículas PM2,5 atingindo 52,4 microgramas por metro cúbico – dez vezes o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esse fenômeno, apelidado de “airpocalipse”, forçou o governo chinês a agir rapidamente. “A situação era crítica, e medidas drásticas foram necessárias”, explicou Hasenkopf.

Em resposta à crise, o governo chinês lançou o Plano de Ação Nacional da Qualidade do Ar, com um orçamento inicial de US$ 270 bilhões. O principal foco foi o carvão, a maior fonte de poluição devido à sua predominância na matriz energética chinesa. A construção de novas usinas a carvão foi proibida em áreas afetadas, e as usinas existentes foram obrigadas a reduzir suas emissões ou migrar para o uso de gás natural. Entre 2013 e 2020, a participação do carvão na matriz energética caiu de 67,4% para 56,8%.

Além disso, o governo chinês investiu pesadamente em energias renováveis e energia nuclear. Em 2017, as fontes renováveis já representavam 25% da eletricidade gerada na China, superando os 18% dos Estados Unidos.

Pequim em 1982, em pleno início da fase de modernização

A capacidade de energia nuclear também dobrou, e o país pretende quase triplicar essa capacidade até 2035. “A China está liderando em termos de transição para energias mais limpas”, afirmou Hasenkopf.

Outro pilar dessa transformação foi a restrição ao uso de veículos movidos a combustíveis fósseis. Cidades como Pequim e Xangai adotaram cotas diárias para limitar a circulação de carros e impuseram restrições rigorosas à emissão de novas placas. Normas de emissão mais severas também resultaram na suspensão da produção de 553 modelos de veículos poluentes. “As medidas no setor automobilístico foram cruciais para reduzir as emissões nas grandes cidades”, destacou a coautora.

Essas iniciativas trouxeram benefícios tangíveis à saúde da população. O EPIC estimou que, em média, os chineses ganharam dois anos a mais de expectativa de vida graças à redução da poluição. Em Pequim, onde os níveis de poluição caíram 56%, a expectativa de vida pode aumentar em até 4,4 anos. Em outras grandes cidades como Xangai, Guangzhou e Shenzhen, as reduções variaram de 44% a 50%.

No entanto, o desafio da poluição ainda persiste. Em Pequim, os níveis de poluentes ainda são superiores aos de grandes cidades ocidentais, como Nova York e Londres. “Embora os avanços sejam impressionantes, a China ainda tem muito trabalho pela frente”, afirmou Hasenkopf. “A poluição continua a ser uma ameaça significativa à saúde pública.”

A questão da poluição do ar é um problema global. Países como Índia, Bangladesh, Nepal e Paquistão lideram os rankings de poluição mais severa, e estima-se que 97% da população mundial viva em áreas onde a qualidade do ar está abaixo dos padrões recomendados pela OMS.

Para Hasenkopf, “o verdadeiro desafio está na capacidade dos governos de implementar e sustentar políticas ambientais eficazes”.

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