A extrema direita ainda esperneia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de agosto de 2023 às 22:22
General Gonçalves Dias e Ricardo Salles na CPI do MST. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O Congresso viveu ontem duas situações esdrúxulas em duas CPIs que se voltaram contra seus criadores.

Na CPI do Golpe, a extrema direita cercou um jornalista, Adriano Machado, da Reuters, como se ele fosse um dos bandidos da invasão de Brasília no 8 de janeiro.

Na CPI do MST, o bolsonarismo cercou João Pedro Stédile e chegou ao ponto de afirmar, como fez Ricardo Salles, que os assentamentos e as ‘invasões’ causam mais desmatamento na Amazônia do que grileiros e fazendeiros.

Esse é o resumo grotesco das CPIs. Um jornalista é convocado e acusado de conluio com manés amadores e fascistas profissionais, e o líder dos sem-terra é apontado como cúmplice da destruição da floresta.

Os dois casos expõem a baixa qualidade da extrema direita. Qual a relevância das suspeitas de que um jornalista pode ter se articulado com golpistas no dia da invasão de Brasília?

Machado mostrou que foi, na verdade, perseguido e ameaçado pelos manés. Mas a acusação era o que os bolsonaristas tinham para o momento.

À tarde, na CPI do Golpe, João Pedro Stédile deu uma aula de como um movimento social se organiza, e chegou a provocar Kim Kataguiri, depois da falar sobre a prevalência do sentido do coletivo, a divisão de tarefas, a disciplina, a obediência à maioria e a dedicação aos estudos:

“Vale para movimento de trabalhadores e vale para o movimento do Kim. Espero que o Kim esteja anotando”.

João Pedro Stedile rodeado de pessoas, de roupa branca, falando e gesticulando
João Pedro Stedile, líder do MST – Reprodução

Era a contraste da sabedoria da vivência e do suporte teórico de Stédile contra a burrice prática do pior time de golpistas fracassados reunidos numa comissão.

E a pergunta que fica desses dois momentos é a que vai nos incomodar por um bom tempo em outras circunstâncias semelhantes.

O que um jornalista que fez seu trabalho no 8 de janeiro e o líder do mais importante movimento social do país fazem em duas CPIs, enquanto os chefes do golpe estão soltos?

Por que ouvir um fotógrafo e criminalizar seu trabalho, se os chefes dos manés e dos terroristas continuam impunes?

Por que ouvir um jornalista, se os grandes financiadores do golpe ainda estão escondidos e alguns chegaram a pedir trégua ao governo e à Justiça?

Machado e Stédile não entraram nas provocações, mas fica a sensação ruim de que o bolsonarismo continua esperneando com certa desenvoltura.

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link