A fabulosa carta de Moro para a Folha. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 12 de outubro de 2016 às 15:03
Ele não sabe que é detestado por muita gente
Ele não sabe que é detestado por muita gente

A notícia do dia, do mês, da semana é a carta que Moro enviou à Folha para se queixar de um artigo que o criticava.

É coisa do Dia das Crianças. Moro se comportou como uma criança contrariada.

O texto, do cientista Rogério Cesar de Cerqueira Leite, não traz nada que sites independentes não publiquem regularmente. O que doeu em Moro foi vê-lo na Folha. Mais ainda, incomodou-o saber que Cerqueira Leite é integrante do Conselho Editorial da Folha.

O articulista centrou-se no seguinte: uma vez que Moro tenha cumprido seu papel perante a plutocracia — essencialmente liquidar o PT — será descartado. Não foi dito no texto, mas o destino será parecido com o de Eduardo Cunha.

A carta mostra que Moro vive num universo paralelo, numa terra da fantasia, onde todos o idolatram e aprovam cegamente.

A realidade é bem mais dura. Moro é amplamente rejeitado pelas forças progressistas. Vamos deixar claro: não são apenas os petistas que o abominam.

Não é exagero dizer que Moro é uma das pessoas mais detestadas do Brasil. Apenas, isso é cuidadosamente escondido pela imprensa, à qual interessa manter a imagem de super-heroi, assim como fez no passado com Joaquim Barbosa.

Quem se lembra de Barbosa? Chegou a ser máscara de Carnaval, e hoje é inteiramente desprezado. Os mesmos jornalistas que corriam desvairadamente atrás de suas catilinárias anti-Lula agora mudam de calçada caso o vejam.

Um detalhe curioso do caso é que Moro deixou claro que se impressionou pelo fato de Cerqueira Leite ser do Conselho da Folha. Aí se revela sua ignorância sobre o funcionamento das empresas jornalísticas. Conselhos Editoriais são inoperantes. Não decidem nada, não mudam nada. Os conselheiros reúnem-se raramente por motivos muito mais sociais que editoriais. Todas as questões realmente relevantes são decididas pelos donos, pelos barões. Moro certamente esteve mais vezes com Otávio Frias, o dono do jornal, do que Cerqueira Leite ou qualquer outro conselheiro.

Moro demonstrou que não se interessa por opiniões diferentes das trazidas pela Globo, ou Abril, ou pela própria Folha — descontado o ponto fora da curva de Cerqueira Leite.

Ele teria uma visão menos ufanista de si próprio, e da Lava Jato, se enriquecesse suas leituras para além da Veja, do Globo, Estadão etc etc.

O imperador Júlio César empregava um romano para gritar para ele “careca, careca” no meio da multidão que o adorava. Era um meio de não esquecer sua humanidade.

Moro talvez pudesse pensar em algo parecido.

Repito: ele não sabe, mas é um dos brasileiros mais detestados.