De um amigo do DCM:
Em sua edição de terça feira, 13, o jornal O Globo acusou a revista Carta Capital, do jornalista Mino Carta, de ter recebido um empréstimo da Odebrecht no valor de R$ 3,5 milhões entre 2007 e 2009.
Nessa época, o juiz Sérgio Moro recém encerrara sua atuação no escândalo do Banestado, o colossal desvio de US$ 134 bilhões para contas fantasmas em paraísos fiscais.
Como se sabe, o processo terminou sem que nenhum grande empresário tivesse sido condenado, mas teve como saldo a profícua colaboração entre o magistrado paranaense e o doleiro e conterrâneo Alberto Youssef.
Na verdade, o que ocorreu foi uma antecipação de receitas, prática comum no mercado, segundo a qual o cliente negocia um adiantamento das verbas, geralmente mediante um substancial desconto, em troca de anúncios e patrocínios futuros de eventos.
De A a Z no setor, o sistema é largamente praticado, dos veículos da própria Globo aos da editora Abril e outros menos votados.
O adiantamento foi negociado diretamente com a empresa por Mino Carta e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, seu sócio na Editora Confiança, que edita a revista CartaCapital.
“Não houve interferência de ninguém a nosso favor”, disse em comunicado oficial Manoela Carta, publisher da semanal.
Mais: segundo Manoela, “o investimento publicitário da empreiteira deu-se quando não havia nenhum sinal do envolvimento da empresa nas ilicitudes apontadas pela Operação Lava Jato.”
Com o dinheiro recebido legalmente, a Carta Capital não apenas reforçou seu caixa, como pôde realizar seminários, como a série “Diálogos Capitais”, promover premiações como “As Empresas Mais Admiradas do Brasil” e o Fórum Brasil, que trouxe ao país personalidades como os economistas Dani Rodrik e Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008.
Em princípio, como afirmou Manoela, nem a Carta Capital nem seus concorrentes têm a obrigação de saber de onde vêm os recursos do adiantamento da verba de publicidade, não apenas os despendidos por empreiteiras como a Odebrecht, como dos demais anunciantes, que se valem da prática de antecipação de receitas.
“Não existe carimbo em dinheiro e trata-se de má-fé acreditar que o investimento na revista saiu de ‘um departamento de propina’ e o aplicado nos demais meios de comunicação tem origem lícita”, afirmou.
Ela lembra, ainda, que outros meios de comunicação receberam verbas da Odebrecht nos últimos anos, quando as falcatruas e malfeitos do grupo baiano eram sobejamente conhecidos.
“Nem por isso, esses veículos podem ser acusados de conivência com qualquer tipo de atitude da empresa ou de defender este ou aquele interesse”, diz. Um exemplo típico de empresa de mídia que continuou parceirona da Odebrecht, em meio ao naufrágio dos últimos anos, é o da Editora Três, da família Alzugaray.
Chapa branca empedernida nos dois mandatos do presidente Lula e no primeiro mandato de Dilma Roussef, a Três virou a casaca nas eleições de 2014, transformando-se na linha auxiliar mais predadora e beócia do esquema golpista que levou ao poder a triste figura de Michel Temer.
Ela mesma está enfrentando seu inferno particular. Em recuperação judicial desde 2007, atolada em dívidas com funcionários e fornecedores, a Três, cujo fundador, Domingo Alzugaray, corre o risco de perder sua mansão no bairro do Morumbi, em São Paulo, penhorada pelo descumprimento de obrigações trabalhistas, deixou os escrúpulos de lado, como diria o coronel Passarinho.
Gostosamente recorreu à Odebrecht para conseguir alguns trocados.
Um bom exemplo da parceria pós Lava Jato é a série “O Brasil que constrói”, veiculada simultaneamente em suas duas publicações semanais, a Istoé, carinhosamente conhecida nos meios jornalísticos e no mercado publicitário como “Quantoé”, e a Istoé Dinheiro, em seis edições, entre 11 de setembro e 4 de novembro de 2015.
Detalhe: nessa época, Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, já estava hospedado há três meses na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.
Entregue como conteúdo editorial, em vez de estampar o tradicional “Informe Publicitário”, a série, que tinha o objetivo implícito de limpar a imagem enlameada da Odebrecht, trata de temas como educação e cultura, recursos hídricos, logística e mobilidade urbana, indústria estratégica, biotecnologia e energia.
Em cada um dos capítulos, uma constante: uma matéria contando as maravilhosas contribuições das empresas do grupo Odebrecht ao Brasil em relação ao tema principal.
Selecionamos exemplos dessa participação da patrocinadora (leia abaixo). No primeiro capítulo, o da educação e cultura, a matéria escolhida, tem o título “Muito além da sala de aula”, com a seguinte explicação: “Programa da Odebrecht Óleo e Gás promove o uso das escolas nos finais de semana e após as aulas, em oficinas ligadas ao esporte, lazer e cultura. A ideia forma cidadãos mais conscientes, ocupa lugares públicos, aproxima as pessoas e traz mais segurança”.
Já no último, dedicado à energia, a matéria “Iluminação para todos” é resumida assim: “Com mais de 60 mil megawwats em projetos no setor de energia, a Construtora Norberto Odebrecht tem participação direta nas mais importantes obras de hidrelétricas, eólicas, térmicas à biomassa e linhas de transmissão no País”.
Deu para entender ou é preciso desenhar?
As “parcerias” da Istoé com a Odebrecht
O Brasil que constrói: educação e cultura
Edição 2392/07.10.2015
O Brasil que constrói: logística e mobilidade urbana
Edição 2394/21.10.2015
O Brasil que constrói: indústria estratégica
Edição 2396/04.11.2015
O Brasil que constrói: biotecnologia
Edição 2397/04.11.2015
O Brasil que constrói: energia