Discursando em ritmo Rivotril, trajando uma camiseta justa que revelava uma barriga com deformidades que lembram um coronavírus tamanho gigante, Bolsonaro terminou o dia de ontem soltando frases enigmáticas, em suposto tom de ameaça que, contudo, beiram o ridículo.
Quem ocupa um cargo de presidente e fica passando recado dia-sim-dia-não, sem tomar uma atitude revela que não detém poder absolutamente nenhum.
“A hora deles vai chegar, minha caneta funciona, não tenho medo de usar a caneta.”
Quem são “eles”? O ministro Mandetta? Então por que não usa a caneta já que vem dizendo isso há dias?
Não demite Mandetta por que? Que “chefe” passa semanas repetindo “vou usar a caneta” e nada faz?
Há dias Bolsonaro tinha dito que Mandetta precisava ser “mais humilde”. Vejam quem está falando, o ser mais arrogante desde o Terceiro Reich, um Deus Sol que ameaça “demitir estrelas”, mas que na realidade nada pode fazer além de proferir divagações delirantes.
O que, ou quem, o impede? Até quando vai ficar proferindo essas vitimizações que culpam anônimos?
“Estão de olho na minha cadeira, querem que volte como era antes.”
“Algumas pessoas no meu governo ‘tão se achando’, falam pelos cotovelos, fazem provocações.”
Quem, rapaz, diga logo.
“Sem querer nominá-los”, ele completa. Oi?
Moleque. Isso é coisa de moleque.
Num momento que entrará para a história por facilitar a vida de documentaristas, Bolsonaro afirma – rodeado de um rebanho bovino que repete “amém” e “em nome de jesus” ao final de cada frase – que aqui “O povo é até pacífico demais muitas vezes”. Amém.
Como, em meio a uma pandemia que já está matando brasileiros às centenas, ele tem tanto tempo à disposição (editado, o vídeo tem quase meia hora) para esse tipo de coisa? A que horas ele trabalha?
Que tipo de “líder” pede jejum a um povo que já está passando fome?
Muito mais que um espetáculo tétrico, assombroso, digno de um estado fundamentalista e nada laico, o vídeo revela um fantoche, impotente para tomar qualquer atitude.