Por Moisés Mendes
Disseram a Bolsonaro pouco antes da eleição que ele iria vencer. Quanto mais a eleição se aproximasse, mais aumentariam suas chances de derrotar Lula e as pesquisas. Bolsonaro tinha certeza de que venceria.
Dizem agora a Bolsonaro que ele será beneficiado por um golpe. Os emissários estão misturados aos mesmos que anunciavam a vitória contra Lula, e eles não são poucos.
Os emissários dizem a Bolsonaro o que ele quer ouvir. E apostam que os bloqueios nas estradas e os acampamentos na frente dos quartéis podem crescer ou, mesmo que continuem como estão, levar a um fato inesperado.
Por isso Bolsonaro levará até o final de dezembro a aposta no golpe, recolhido no Alvorada, enquanto os prepostos cuidam do que pode ser feito.
Mantêm a turba mobilizada na base e não desestimulam os grupos de tios influentes, alguns com algum dinheiro e outros milionários, que patrocinam a arruaça.
A erisipela, que ninguém duvida que exista e que incomode, é um bom pretexto para que o derrotado fique em casa olhando tudo de longe.
A reportagem de Sarah Teófilo e Rodrigo Rangel no Metrópoles, com as movimentações de políticos na casa de Brasília usada como comitê de Bolsonaro, mostra o general Braga Netto ativo na manutenção do ânimo das tropas.
O general transita entre a casa do comitê e o Palácio da Alvorada. É o leva-e-traz. Informa aos que vão à casa, é informado, vai até Bolsonaro e mantém esse vaivém enquanto for possível.
Por enquanto, quase tudo é possível em toda parte. É descarada e despreocupada a desenvoltura dos que agem nas estradas, nas ruas e em Brasília.
Na sexta-feira, Braga Netto foi filmado conversando com apoiadores, na saída do Alvorada, e declarou sem baixar o tom da voz:
“Vocês não percam a fé, tá bom?”
E completou:
“É só o que eu posso falar para vocês agora”.
Agora, é isso. Mas o general sugeriu que teria mais o que dizer logo adiante. E assim o golpismo se mantém atento.
O cenário vai se alterando, com alguma repressão e com as listas de golpistas enviadas a Alexandre de Moraes, mas a prevalência é da inércia da maioria das polícias, dos governadores e de parte do Ministério Público.
Há mais do que a aventura de uma empreitada urgente. Há uma tentativa de criar base para o que seria a sobrevivência do bolsonarismo, se o golpe não der certo.
No curto prazo, os patriotas esgarçam a afronta à democracia, à Constituição e a Alexandre de Moraes e apostam no imponderável, num conflito grave e até em mortes e rupturas.
No médio prazo, se a situação continuar a mesma, os líderes transformam o que hoje é uma turba em militantes permanentes de uma erisipela golpista.
A ideia da perenidade independe da sobrevivência ou não de Bolsonaro, mesmo que sua morte política, por falta de força física, seja provável.
Enganam-se os que, como fez o Estadão em manchete, têm dado aos acampamentos um caráter de vigília por Bolsonaro.
São quase inexistentes faixas, cartazes e bandeiras com imagens de Bolsonaro nas aglomerações.
Bolsonaro é usado, inclusive pelos que levam e trazem informações sobre o que acontece nas trincheiras, porque ele ainda é o líder, mesmo que alquebrado.
Para os patriotas e manés, o que importa é apostar nos militares, e não na figura do derrotado. Braga Netto sabe que essa é a fé que importa.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES