Publicado originalmente no DW.
Pouco depois da meia-noite, o DJ toca um clássico dos anos 1990. Cerca de 150 pessoas tomam conta da pista da Fabrik45, uma casa noturna de Bonn, no oeste alemão. Elas finalmente encontram coragem – ou já beberam o suficiente – para cantar e dançar. A pista toda sabe a letra de um dos clássicos dos Backstreet Boys. Mas como todos estão com fones de ouvido, tudo que se ouve são pequenas conversas, os pés batendo na pista e alguns trechos da música cantados de forma confusa.
Dois DJs discotecam em dois diferentes canais, que são transmitidos para os fones de ouvido via rádio. O sucesso dos Backstreet Boys é transmitido no canal A, onde Christof Domrove, também conhecido como DJ Drelland, executa sucessos da música pop. Na cabine ao lado, o polonês naturalizado alemão Darius Roncoszek, o DJ Darius Darek, toca sua especialidade no canal B: world music.
“Com os fones de ouvido, você pode escolher entre dois canais, entre dois DJs diferentes”, conta, enquanto demonstra empurrando o pequeno interruptor na parte de trás do fone. “Quando acabar a bateria, venham até aqui, que eu troco para vocês. Aqui você controla o volume”, explica.
A primeira impressão de Ariane: “O fone é um pouco grande, preciso primeiro ajustar”. Depois de procurar um pouco, ela encontra o controle do volume. “A qualidade é boa”, diz.
O máximo da potência do fone de ouvido é de 80 dB – segundo a empresa fornecedora, o limite recomendado pelos médicos. Quem acha o som nos clubes muito alto se anima com a possibilidade de controlar seu próprio volume.
Halla, de 38 anos, gosta da ideia do fone de ouvido, mas sente falta de “sentir o baixo da música em seu corpo como em uma discoteca”. No entanto, já é a segunda vez que ela e o namorado, Peter, vão à festa silenciosa. “É uma festa especial e simplesmente divertida,” afirma.
Como os fones cobrem completamente as orelhas, ouve-se a música no volume máximo – muitas pessoas, no entanto, começam a cantar a mesma canção. Um olhar para os lábios de um colega de pista pode revelar uma música que se quer escutar – durante a noite, muda-se inúmeras vezes de canal.
“Sempre há algo que eu tenho vontade de ouvir”, diz Marie, de 28 anos e que gosta da possibilidade de escolher músicas.
A geração que está acostumada a apertar o botão do tocador MP3 até encontrar uma música que goste se sente em casa na festa. Para Darius Roncoszek, o evento é uma maneira de levar música de todo o mundo para as pessoas. A maioria vem por causa dos sucessos, mas é importante oferecer uma alternativa.
Embora ele tenha menos ouvintes em seu canal de world music, Roncoszek tenta sempre cativar e atrair o público. Na festa em Bonn, muitos cantam I Like to Move it, sucesso dos anos 1990 da banda Reel 2 Real. Roncoszek mistura o clássico com uma polca em ritmo acelerado. Ele pega o microfone e, enquanto todo mundo dança, diz: “Bem-vindos ao canal B”, grita o DJ para aqueles nele sintonizados. A resposta é imediata: aplausos.
As festas com fones de ouvido já acontecem no Reino Unido desde a década de 1990. Nos últimos anos, o conceito tornou-se cada vez mais popular ao redor do mundo, sobretudo na Europa. Na Alemanha e na Suíça, há diversos promotores que organizam festas silenciosas.
O sinal da transmissão de rádio dos fones de ouvido pode atingir 100 metros se não houver grandes obstáculos no caminho. A festa em Bonn ocorre em uma galeria de arte privada. Natascia Cuschié, que trabalha no local, não recebeu até o momento qualquer reclamação em relação ao barulho. Essas festas também são populares em locações ao ar livre, desde que não haja risco de chuva, já que o equipamento é muito sensível.
Por volta das 5h da manhã, a festa termina. Apenas algumas das 250 pessoas que passaram pela festa durante a noite ainda estão na pista. Depois de horas, eles tiram e devolvem seus fones de ouvido. A próxima festa em Bonn já está marcada para o Halloween. O tema para os canais A e B não poderia ser mais empolgante: Dia das Bruxas versus Dia dos Mortos.