No mundo fantasioso da ministra Damares Alves, racismo se combate com festa de princesa e discursos vazios.
A festa, no caso, foi oferecida pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) para a menina Ana Luísa Cardoso Silva, de 9 anos, discriminada em Goiás por uma mulher que afirmou não existirem princesas negras.
O discurso vazio ficou para o final da festa.
“Nós hoje estamos escrevendo uma nova história no Brasil, sem racismo, nós vamos trabalhar nas escolas e com amor, vamos trazer a solidariedade e fraternidade para a mesa do debate nas escolas e em todos os lugares”, disse a ministra em um vídeo com suas colegas de pasta.
Para Damares, racismo é doença e deve ser tratado. Tolice.
O racismo é resultado de toda uma estrutura social construída ao longo dos anos.
Não é doença, não é pecado, não desaparece nas sessões de descarrego dos templos que Damares frequenta.
É esta estrutura racista que rebaixa esteticamente os corpos negros a ponto de deixar uma mulher à vontade para ofender uma criança que afirmou ser uma princesa.
O tipo de racismo sofrido pela pequena Ana Luísa é só um dos vários provocados pelos milhares de dentes da engrenagem racista que há séculos esmaga a carne e a alma das pessoas negras.
Não se interrompe esta máquina com festinhas aqui e afagos ali.
Para frear a estrutura racista são necessárias políticas públicas robustas, possíveis apenas com o comprometimento estatal e presença de gente intelectualmente capacitada e sensível às questões raciais.
Duas coisas inexistentes em um governo que até a semana passada tinha um simpatizante do nazismo entre os quadros do alto escalão e se esforça para botar empecilhos na demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Por isso, só inocentes ou dementes acreditam que Damares e sua turma têm algum compromisso em erradicar o racismo. Até porque eles são operadores da estrutura racista e dependem dela para se manter no poder.
O fuzuê da ministra foi só mais um exemplo de “tokenismo”, termo usado para a prática de inserir de forma isolada e artificial um grupo minoritário e usar o ato como exemplo de compromisso com a causa de tal grupo.
Damares se aproveita da princesa Ana Luísa para seguir dentro do seu jogo de poder bolsonarista, enquanto assiste inerte a máquina racista interromper os sonhos de princesas como Ágatha Félix e Anna Carolina de Souza Neves, mortas por balas perdidas no Rio de Janeiro.