Considero detestável a síndrome de vira-latas que acomete a alguns brasileiros e faz com que acreditem que a realidade no exterior é superior à nossa, mas, por vezes, é inevitável admitir que, ao menos em matéria de feminismo, o Brasil é um atraso.
A cultura patriarcal é universal, é verdade, mas o Brasil é um vencedor invicto. Os exemplos são tantos que prefiro ir direto ao ponto:
Aqui, proíbem-se os shortinhos nas escolas. Nossa cultura de colonizados determina que devemos usar calças jeans e sapatos fechados num clima tropical porque pernas à mostra são um ultraje – pernas, vejam bem: não estamos falando de nádegas ou peitos, embora devêssemos.
Enquanto isso, na Suécia, a estudante Hanna Bolander, de dezenove anos, resolveu posar de topless para a fotografia de classe anual, como forma de protestar contra a sexualização das estudantes de ensino médio – que, assim como o machismo, também é universal. Hannah disse que se os homens podem andar de ‘topless’, as mulheres também devem poder.
Bingo! Nós também sentimos calor.
O mais incrível (incrível ao menos para a realidade brasileira) na história de Hannah é que o topless não foi uma ideia só dela: a classe inteira estava convencida da necessidade de debater a igualdade de gêneros. Hannah foi apenas a aluna que se disponibilizou a protagonizar o ato, que não contrariou a escola. Aliás, muito pelo contrário: a foto em que ela aparece com os seios a mostra não apenas foi mantida como amplamente divulgada no país.
Não foi a rebeldia de uma aluna farta do machismo e da sexualização dos mamilos femininos – e ainda que o fosse, isso bastaria para os nossos aplausos – foi um ato organizado por toda uma classe e com o apoio da própria escola.
Hannah teve o apoio dos colegas, da família e da escola. Como se não bastasse, um homem de 70 anos disse-lhe que se sentiria orgulhoso se sua neta posasse de topless como forma de protesto em uma fotografia de classe.
O que teria ocorrido a essa moça, acaso fosse brasileira? Não é difícil prever: prostituta, desocupada, quer chamar a atenção e isso só pode ser falta de sexo.
Considerariam um ultraje para um local sagrado como a escola – onde se pode surrupiar merenda e desrespeitar professores, mas não se pode protestar contra a cultura patriarcal (aliás, como temos visto, não se pode protestar contra coisa alguma).
Afinal, escola e evolução social realmente não combinam.
E enquanto isso, as brasileiras e alunas de ensino médio são taxadas de vulgares e baderneiras – para dizer o mínimo – porque querem ir à escola de shorts.
O conservadorismo brasileiro tem muitos bons exemplos e pouca vontade de segui-los.