É natural que fascistas tentem ser confundidos com liberais. Mas liberais deveriam se constranger ao serem confundidos com fascistas. No Brasil, eles não se constrangem.
O movimento de apoio a Lula por estrelas do liberalismo, às vésperas da eleição, desmascarou os que se fantasiavam de liberais, mas já estavam alinhados à extrema direita.
O que temos são pretensos liberais sem máscaras, dispostos a correr o risco de adotar o mesmo discurso de tios e tias acampados na frente de quartéis.
São liderados pela Folha, que se esforçou para que a PEC da Transição, assim definida por toda a imprensa, fosse taxada de PEC da Gastança.
É o recurso raso de apelidar fatos e situações que envolvam as esquerdas, que vem desde o chamado mensalão.
A Folha puxa o jogral estudantil dos que enxergaram irresponsabilidade na empreitada de Lula e aliados para viabilizar o primeiro ano de governo.
É mais do que crueldade com os pobres que irão receber os R$ 600 negados por Bolsonaro.
É mais do que desprezo pela tentativa de recuperação do que há de mais básico em serviços e estruturas da saúde, da educação e da cultura. É também a soberba de uma certa ignorância.
Os liberais que hoje se confundem com fascistas repetem o que dizem sempre quando o governo não lhe agrada. Mas desta vez as circunstâncias são outras e exigiria maior cautela.
A Folha fala pelos grileiros da Faria Lima num contexto de guerra. Bolsonaro destruiu o Estado.
Lula foi eleito em meio a uma emergência. Não estamos numa situação de normalidade, que permita conversas dos anos 90 com os clichês de vamos cortar gastos ao invés de aumentar despesas.
Os grileiros da Faria Lima estão hoje mais próximos dos milicianos de Bolsonaro do que dos seus ancestrais de 30 anos atrás. O neoliberalismo perdeu sofisticação.
Um grileiro do mercado financeiro assombraria um Roberto Campos, se fosse flagrado trocando ideias com a turma de Bolsonaro. Os grileiros têm a mesma base de raciocínio de um tio do zap.
Um editorial recente da Folha, que não merece a reprodução de uma frase sequer, é constrangedor como tentativa de reflexão sobre o que teriam sido os primeiros erros de Lula, mesmo antes de assumir.
Não se exige que o texto tivesse o brilho do lastro acadêmico que sustentou o neoliberalismo até a crise de 2008. Mas esperava-se que fosse um pouco mais do que uma composição.
A Folha contagia todas as suas áreas, incluindo a de opinião, com o que acontece no seu jornalismo cada vez mais precário.
Se tivessem um açougue, os Frias estariam vendendo apenas guisado. O negócio continuaria sendo um açougue, manteria a atividade como loja de carnes, mas só iria oferecer guisado.
Não há, em quatro anos de governo de extrema direita, uma reportagem, uma só, que a poderosa Folha, com sua grande estrutura, possa apresentar como contribuição para a compreensão do que foram os quatro anos de fascismo.
A Folha é burocrática e prefere manter a fidelidade de seus assinantes conservadores convertidos à extrema direita.
O jornalismo acomodado da Folha transforma os custos de uma assinatura numa gastança desnecessária.
E tudo para tentar refletir os desejos do garimpo da Faria Lima, que teme até Geraldo Alckmin. Chegamos ao ponto em que o mercado teme muito mais um ex-tucano do que um miliciano.
Esse mesmo mercado que nunca teve medo de Bolsonaro, nunca se manifestou com alarde contra os crimes do orçamento secreto e nunca reclamou do genocídio da pandemia.
Por isso a Folha, como cúmplice, fecha os quatro anos do governo de Bolsonaro com um balanço interno terrível de muito desperdício e pouco jornalismo.
Não por acaso, são quatro anos sem Otávio Frias Filho.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
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