Alguém cobra da Globo alguma magnanimidade no caso Garotinho, seu inimigo histórico. É na adversidade do inimigo que podemos mostrar elevação de caráter. Era mais ou menos este o argumento que vi.
Mas como cobrar da Globo algo que ela não tem? É mais fácil pedir ao vento que deixe de soprar.
Há um episódio exemplar nesse capítulo.
Adolpho Bloch, da Manchete, estava quebrado. Desesperadamente quebrado.
Ocorreu a ele pedir ajuda a Roberto Marinho e seus bilhões. Marcaram um encontro na Globo.
Mas havia uma desavença passada. A Globo perdeu os direitos de Carnaval para a Manchete por decisão de Brizola.
Marinho procurou Bloch para tentar um arranjo, mas a conversa não andou.
O troco veio no encontro entre ambos na Globo, anos depois.
Bloch foi submetido a uma excruciante espera de quatro horas na ante-sala de Roberto Marinho.
Aberta enfim a porta, Marinho disse apenas: “Estou esperando por aquela nossa conversa sobre o Carnaval.”
E encerrou: “Passar bem”.
Bloch saiu dali rumo à ruína. Marinho e a Globo seguiram sua trajetória bilionária — e impiedosa.
O fato está narrado na biografia de Roberto Marinho escrita por Pedro Bial.
O caráter da empresa estava impresso ali.
Você vê um caso — o de Bloch — e imediatamente entende o outro, o de Garotinho.