Será que a Globo vai mostrar em “Os dias eram assim” o quanto apoiou a ditadura?
Imagino que não.
Mas o primeiro episódio já deixou claro que o tom será bastante crítico em relação ao regime que fez a Globo ser o que é.
Pode ficar então a pergunta do porquê dessa série nesse momento.
Partindo do princípio de que a Globo não dá ponto sem nó, principalmente em anos que antecedem eleições presidenciais, proponho uma hipótese: a Globo tenta conter o monstro fascista que ajudou a criar.
No caso, Jair Bolsonaro.
E assim unificar os votos da direita em João Doria.
De fato, parece já haver um protocolo interno sobre Doria. E na Globo News isso chega a ser cômico.
No Manhattan Connection, o comentarista Caio Blinder fez uma piada sobre Doria e teve que lidar com o mais constrangedor dos silêncios de seus companheiros de bancada.
Palavras como gestor, administrador, novidade, e outros motes da campanha do prefeito de São Paulo já aparecem bastante.
Parece também não haver dúvida de que Aécio, Alckmin e Serra serão sacrificados na cobertura da Lava-Jato em nome da “imparcialidade”.
E não é interessante para a Globo que Jair Bolsonaro saia fortalecido do vácuo deixado pela implosão da direita tradicional.
É preciso um nome, e rápido, e esse nome é João Doria.
Bolsonaro ainda não parece viável, e mesmo se fosse, mergulharia o país em um cenário parecido ao que será apresentado em “Os dias eram assim”.
Com a desvantagem de estarmos na era da internet, e já não ser possível à Globo manter a aparência de normalidade.
Não, a Globo não sobreviveria ao apoio a um novo regime nos mesmos moldes do que defendeu em 1964.
Talvez também não sobreviva a um governo de esquerda que lhe corte as verbas publicitárias.
E desde o impeachment de Dilma quem sabe tenha ficado evidente à esquerda que não há dinheiro suficiente para a Globo abrir mão de seus princípios.
E seus princípios serão sempre os da Casa Grande. Da ditadura militar, da massa cheirosa do Country Club, dos banqueiros, grandes empresários, do monopólio.
Os dias eram assim, e continuam sendo.