Essa ladainha generalizada entre eleitores de Fernando Haddad e Ciro Gomes prova como a esquerda balança como marionete sob a mão invisível do mercado – enquanto ignora a real intenção de quem quer barrar qualquer chance de vitória progressista nas urnas.
A adesão às provocações mútuas só desestabiliza candidaturas comprometidas com o interesse popular e mascara os verdadeiros confrontos ensejados pelas eleições de 2018: civilização x barbárie, elite x povo, dinheiro x direitos, soberania x entreguismo.
O cenário é tão desolador quanto cristalino: a menos de um mês da votação, o líder das pesquisas é um ex-militar aferrado a ideias medievais, intolerante, misógino, racista, adepto da violência e com conhecimento pedestre da humanidade e do próprio país.
Gravitam em torno do voto dele candidatos engravatados e capatazes do dinheiro, empenhados em chegar ao poder para expropriar o patrimônio nacional, enriquecer a elite e esfolar a massa de trabalhadores já engalfinhada pelo calvário da Era Temer.
Esse balaio de políticos só tem um naco de votos porque viceja, no Brasil recente, o sentimento de ódio difuso direcionado contra petistas e “tudo que está aí”, patrocinado por uma mídia irresponsável, um judiciário atrofiado e uma elite atrelada aos escombros do neoliberalismo – e, de vez em sempre, indiferente aos brasileiros.
Ciro e Haddad militam no campo oposto, também ocupado por Guilherme Boulos. Têm trajetórias e formas de atuação política distintas, mas comungam do mesmo objetivo nos planos de governo: reconduzir à ribalta o povo e os interesses do país – possibilidade aviltante para banqueiros, entreguistas e especuladores do mercado.
Esse temor dos abastados está por trás de manipulações grosseiras levadas a público pela parte capacha da mídia na tentativa de desqualificar a dupla progressista.
Ciro é tratado como intempestivo e demagogo porque, na verdade, suas propostas são claras e atendem às necessidades da parte mais carente da sociedade brasileira. Haddad é definido como “poste” de Lula, apesar de ser doutor em filosofia, mestre em economia, advogado e ex-ministro da Educação.
Incapaz de dobrá-los quanto à competência, resta ao espectro conservador estimular a picuinha, promover a distração e esconder o risco flagrante do retrocesso nas eleições para enfraquecer o lado progressista – façanha só conquistada com o endosso ingênuo do arranca-rabo deflagrado pelos eleitores de ambos.
Os dois devem disputar votos de forma legítima até o fim do primeiro turno, com referências a defeitos um do outro. Faz parte do jogo – e é salutar, se não cederem às armadilhas dos verdadeiros adversários.
A sabedoria popular é o melhor alerta: enquanto os cães ladram, a caravana passa.