A guerra fratricida entre os herdeiros de Alckmin está apenas começando. Por José Cássio

Atualizado em 16 de julho de 2018 às 21:03
Márcio França e João Doria Jr., os herdeiros de Geraldo Alckmin

Em tom provocativo, em mais um round na briga eleitoral com o ex-prefeito João Doria, o governador Márcio França foi às redes sociais neste fim de semana para dizer que “suspendeu” a privatização do Parque do Ibirapuera, uma das principais vitrines da gestão Doria-Covas na prefeitura.

França informou o prefeito Bruno Covas que existem divresas áreas do Estado na extensão do parque e que o governo não foi ouvido sobre a privatização.

“O Ibirapuera é o símbolo maior do paulistano e guardião da memória da luta paulista”, escreveu França, “O governo está à disposição da prefeitura para ajudar na manutenção do parque. Se depender do governo, ele sempre será público”.

Bruno Covas contra-atacou dizendo que vai retirar da concessão a área pertencente ao estado, que, segundo ele, representa uma pequena parcela.

Afora ganhar um pé de página aqui, outro acolá, na imprensa, são poucos os que acreditam na boa intenção tanto de Covas quanto de França nesta queda de braços.

“Em princípio não sou contra a concessão de áreas públicas à iniciativa privada, mas neste caso é nítida a disputa eleitoral”, comentou o ex-vereador Ricardo Young (Rede), atual presidente do Instituto Ethos. “A privatização é mais uma promessa não cumprida por Doria, que o Márcio França aproveita para tirar a sua casquinha”.

Independentemente da cena eleitoral, Young é radicalmente contra iniciar a entrega pelo Ibirapuera.

“Ali temos museus, um complexo ecológico ambiental, diversas outras instalações, sem contar que é o parque municipal mais bem administrado de São Paulo. Não há outro motivo pela privatização senão a ganância da prefeitura e de empresas privadas”, diz Young.

Na Assembléia Legislativa, o assunto ganhou relevância.

O deputado João Paulo Rillo, do Psol, diz que a iniciativa de França é válida, “mas se ele quisesse de fato mostrar boa intenção deveria atuar para reverter as várias iniciativas de Alckmin prejudiciais ao patrimônio ambiental do Estado, como parques e áreas verdes que foram concedidos e alienados e cuja a constitucionalidade é questionada na Justiça”.

Na disputa entre os dois grupos políticos que, cada qual à sua maneira, comandam o consórcio em que se tornou o poder no Estado, o grupo de França reclama que está “havendo interferência externa” na Assembleia Legislativa por parte dos estrategistas eleitorais de Doria.

“Projetos prioritários de Geraldo Alckmin estão sendo sistematicamente obstruídos pela bancada do PSDB, numa atitude inaceitável”, diz o deputado Carlos Cesar (PSB), lider do governo na Casa.

Semana passada, o DCM apontou com exclusividade que a bancada do PSDB se negava a votar o projeto de extinção do Ipesp e a própria Lei de Diretrizes Orçamentárias, LDO. 

“Pela primeira vez em25 anos, temos uma oposição de direita na Assembléia”, diverte-se Carlos Giannazi (PSOL).

Na rua ou nos bastidores, a guerra fratricida entre os herdeiros de Alckmin no Estado está apenas começando.