Por Moisés Mendes
A fake news da mamadeira de piroca está para o mundo das mentiras e das crueldades fascistas como o Monza para o mundo dos carros. A invenção da mamadeira em 2018 é um Monza que só existe hoje como curiosidade e peça de colecionadores.
A mamadeira é da época romântica das fake news. O que vem aí, e será sentido principalmente na última semana da campanha, é a fake news de última geração das milícias digitais.
Pelo ritmo, dá para imaginar o cenário com a disseminação de notícias falsas às vésperas da eleição. E as consequências imediatas e as sequelas dos ataques.
Não há autoridade com equipamentos, gente, leis e imposição institucional capazes de contê-los. Já estamos no último estágio da distopia bolsonarista.
É um ambiente sem similar no mundo, pelas particularidades dos personagens e da estratégia usada. É o modelo verde-amarelo pós-Trump, que pode vir a ser exemplo para o mundo.
Quando disse que não iria permitir de novo a propagação de fake news, logo depois do julgamento das ações contra a chapa Bolsonaro-Mourão no TSE, há exatamente um ano, Alexandre de Moraes não imaginava o que o esperava.
A chapa foi absolvida pela Justiça Eleitoral, mas ficou a advertência do ministro: desta vez passou, mas na próxima não haverá perdão. Haverá cadeia, alertou Moraes.
Não há cadeia para tanta gente. Não há como prender. Não há nem verdades suficientes para combater tantas mentiras.
Não há escrúpulos capazes de conter a avalanche de afrontas ao que nos sobra de democracia.
Não há ameaça de Moraes que amedronte milhões mobilizados na disseminação de fake news. Porque o terror não mais é representado apenas pelo núcleo ao redor de Bolsonaro.
A face aparentemente invisível do terror é o contingente que dá lastro para que Bolsonaro se mantenha e se potencialize como ameaça autoritária.
O brasileiro cooptado pelo bolsonarismo é a ameaça. Ele acredita ou finge acreditar em fake news como acredita em Terra plana e como suspeita que o homem não foi à Lua e que as vacinas podem matar.
Dizer que o Brasil está doente é transferir para um coletivo aparentemente impalpável o que está ao nosso lado. Nossas mães, pais, tios, tias, filhos, irmãos, sobrinhos são propagadores e consumidores de fake news.
Fingimos descobrir só agora que os envolvidos com fake news não são “os outros”. A máquina de disseminação é também doméstica e artesanal e ultrapassa em muito a estrutura industrial das milícias.
O massacre final tem pelo menos 10 dias para acontecer. Se as milícias, os empresários que ameaçam empregados e os tios do zap forem derrotados com Bolsonaro, talvez tenhamos alguma punição para os mais fracos.
Se vencerem, nem uma dúzia de Alexandres de Moraes será capaz de pegá-los. Nunca mais.
O Brasil é refém de quase metade da população que produz, distribuiu e acolhe fake news ou está apta a acolher. Bolsonaro é o laranja de toda essa gente.