A hora do impeachment chegou. Por Emir Sader

Atualizado em 21 de junho de 2020 às 16:47
Somos democracia: manifestantes usam Bandeira do Brasil em ato contra Bolsonaro em Brasília. Foto: George Marques/Twitter

A via do impeachment estava enfraquecida, com a posição do PSDB, do Cid Gomes, do Gilmar, do presidente do PMDB, pronunciando-se contra. Pelo lado do governo, a aliança com o Centrão, a consolidação da aliança com os militares, fortaleciam os mecanismos de defesa de Bolsonaro, que se refugia nessa sua zona de conforto, depois da saída de Moro do governo. Para que o clima favorável ao impeachment fosse criado, faltavam tanto um sentimento generalizado de indignação na grande maioria da população contra o Bolsonaro, como mobilizações populares em todo o pais.

Instalou-se uma espécie de empate entre o campo do governo e o da oposição, sem o que nem um golpe se torna possível, nem o impeachment. Bolsonaro não tem condições de tentar um golpe, ele na tem força e nem clima político para isso. Nem a oposição conseguiu, até agora, criar um clima de amplo consenso democrático a favor do impeachment.

O resultado é uma estagnação, em que o país se desfaz. A pandemia mata um brasileiro por minuto, ao longo dos dias e dos meses. A recessão da economia se aprofunda e se torna depressão. A crise política, com a ausência de legitimidade do presidente, torna o país entregue ao Deus dará.

Bolsonaro comete, diariamente, novos crimes de responsabilidade. Mas o impeachment, como sabemos, é uma questão política e não apenas jurídica. Juridicamente, o Bolsonaro ja não seria presidente do Brasil. Por que não se dão ainda as condições políticas?

O presidente da Câmara tem medo de uma crise descontrolada, cuja culpa poderia ser jogada sobre ele. Ele prefere uma crise sob controle, na qual sempre pretende ter o papel de intermediador e conciliador, sem enfrentamento aberto com Bolsonaro.

O PSDB também tem medo de uma crise, na qual ele não desemprenhará nenhum papel, porque desaparecerá do cenário política. O partido está tão desestruturado que o governador de São Paulo e o próprio FHC se manifestam a favor do impeachment, revelando que essa posição oficial do PSDB não tem maiores efeitos, mas contribuem para enfraquecer um amplo consenso opositor pelo Fora Bolsonaro!

Cid Gomes também se pronuncia contra, sem argumentos, mas também ajuda na direção de enfraquecer o impeachment, que parece não ser a posição do PDT e do seu próprio irmão. Gilmar também se diz contrário, que é um obstáculo de peso. Conta também a declaração do presidente do MDB contra o impeachment.

Mas o caso Queiroz ajuda a desbloquear essas resistências. Apoios do governo podem defeccionar: tanto empresários, quanto Centrão e militares e se criar o clima de isolamento generalizado do Bolsonaro. Depende da recomposição da unidade da oposição em torno do Fora Bolsonaro, pressionada por manifestações cada vez mais amplas da rejeição do governo. E da possibilidade de manifestações de rua, quando a quarentena for superada e a rejeição generalizada do Bolsonaro puder ser expressada nas ruas de todo o Brasil.

Mas o trabalho político e de tomada de consciência de todos de que a crise de saúde publica, a crise econômica e a crise politica não podem ser resolvidas sem o Fora Bolsonaro. Que o país e o povo não o aguentam mais. Que, como disse a presidenta do PT, Gleisi Hoffman, quem ficar contra o Fora Bolsonaro ficará isolado.

Quem, em um momento em que o país se desintegra – em termos de saúde pública, em termos econômicos, sociais, políticos e morais – não se atreve aderir ao Fora Bolsonaro, se torna cúmplice da destruição de vidas de brasileiros, de destruição do patrimônio público, de destruição da economia e dos direitos sociais dos brasileiros, cúmplice da degradação moral que o pais sofre sob o governo do Bolsonaro.

É a hora do Fora Bolsonaro, para que possa ser de novo a hora do Brasil, a hora da democracia, a hora do povo, a hora do resgate da imagem do Brasil, a hora do resgate do orgulho de ser brasileiros.

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