Por Miguel Paiva
Etarismo é uma palavra nova. Para mim pelo menos que sou vitima indireta dele. Depois de uma certa idade o mundo muda muito. Se não formos um gênio das vendas nossa renda cai e nosso mercado de trabalho se restringe. Nada contra os jovens, pelo contrário. Além de já ter sido um, é dos jovens que vêm as possibilidades de transformação da vida. Evidentemente existe uma supervalorização da chamada sociedade de consumo (termo bem antigo, por sinal) em relação aos jovens, à juventude, à modernidade, à tecnologia e às redes sociais que demonstra essa escolha.
Talvez isso traga até uma sensação de superioridade, de desprezo dos jovens em relação aos idoso. Eles não foram educados como os indígenas que valorizam o conhecimento, a experiência transmitida pelos idosos aos jovens. Esses jovens indígenas sabem que esse conhecimento é fundamental e eles crescem acrescentando a este aprendizado suas características pessoais.
A juventude branca, heterossexual, de classe média brasileira, na sua maioria e respeitando as exceções, sabe pouco da vida. Acha que o fato de ser jovem a avaliza para os desafios da vida. Não é bem assim. Claro que alguns podem ser dar bem. A sorte conta muito, mas um aprendizado, uma experiência transmitida, os simples anos de vida a mais, valem muito. É preciso ter uma certa humildade para entender isso.
Essas moças que hostilizaram as universitárias de 40+ não sabem nada da vida. Primeiro que não entendi o motivo da hostilidade. Segundo que não vi onde elas queriam chegar, nem o que queriam valorizar. Nem sei se elas se acham mais bonitas, mais sedutoras, mais gatas que as de 40. Mais inteligentes eu nem falo porque se fossem não fariam o que fizeram.
O meu querido e sábio Ziraldo diz sempre que tem uma coisa que eu não tenho. Ele já chegou na idade que tem e eu não. Verdade. Grande sabedoria e eu digo o mesmo pra essas moças de Bauru que agora parece que desistiram do curso. Qual seria o motivo? Mais prepotência de achar que vão conseguir seus objetivos de qualquer maneira? Desse jeito vai ser difícil chegar a algum lugar digno.
Vivi uma juventude plena, cheia de novidades e descobertas como deve ser, mas sempre frequentei os mais velhos. Sempre fui o mais novo da turma e aprendi muito com isso. Ouvia os mais velhos e saboreava tudo que aprendia. Foi muito bom e é muito bom viver assim. Pena que hoje no Brasil isso seja tão pouco valorizado. Uma país sem memória é um país que desprezas seus idosos. Na hora em que precisamos mais os planos de saúde ficam mais caros, a seleção para trabalhos é estreita e os olhares das pessoas, quando te percebem é quase com desprezo ou pena.
Pena mesmo. Seria muito bom um país que ouvisse seus idosos. Um país que desse valor ao tempo. Uma pessoa de 40 anos hoje, com tudo que o mundo mudou é uma jovem pessoa de 40 anos. Cada vez se vive mais no planeta apesar dos planos diabólicos do mercado de mudar isso. Estamos vivendo mais e isso é muito bom. E podem me escutar. Tenho muitas histórias maravilhosas para contar.
Publicado originalmente em Jornalistas pela Democracia