De um amigo do DCM:
Impagável ouvir nos diversos programas da rádio Jovem Pan, a emissora oficial do golpe, em São Paulo, as explicações para o fracasso das mobilizações convocadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua para o domingo, 26.
Como se diz por aí, é uma coisa que não tem preço. Com o rabo nos meio das pernas, visivelmente decepcionados, os expoentes da seleção de craques da direita radiofônica (com exceção de Reinaldo Azevedo, desde sempre contrário à iniciativa) se revezaram ao microfone no insano esforço de encontrar os motivos do sumiço puro e simples das multidões esperadas, fenômeno que se estendeu por todo o país.
Quinhentos manifestantes em Brasília, outro tanto no Rio, um pouquinho mais em Curitiba e ridículos 15 mil na capital paulista, enfim, o fiasco foi generalizado do Oiapoque ao Chuí. O ímpeto combativo da turba que contribuiu para a derrubada da presidente Dilma Rousseff teria tomado Doril?
Uns debitaram o vazio das ruas e praças brasileiras à pauta eclética, que ia do apoio à Lava Jato ao repúdio ao foro privilegiado, passando pela condenação da lista única eleitoral e pela defesa da revisão do Estatuto do Desarmamento.
Em 2016, lembravam, a palavra de ordem “Fora Dilma” tinha o dom de unificar os manifestantes, iludidos com as lorotas propagadas pelos golpistas de que, com a saída da presidente, num passe de mágica não só a corrupção desapareceria como o Brasil voltaria a crescer e seria uma versão tropical do Paraíso terrestre.
Outros, menos politizados, lamentaram a realização, em São Paulo, de dois eventos supostamente concorrentes, o clássico de futebol São Paulo e Corinthians e a sexta edição do Lollapalooza, esquecendo-se de que o forfait das multidões coxinhas foi um fenômeno nacional e que o “Fora Temer” empolgou por diversas vezes a moçada que compareceu em massa ao festival internacional de música.
Um terceiro grupo, encabeçado pelo inefável Augusto Nunes, esgrimiu a teoria de que o fato da convocação dos atos com muita antecedência (mais de um mês, nesse caso) teria comprometido o senso de urgência, “esquecendo” que todas as manifestações bem sucedidas do golpismo, no ano passado, também foram marcadas com bastante anterioridade.
Nem uma palavrinha sequer sobre a decepção de muita gente com o desgoverno Temer e com a sucessão de atentados aos direitos da população, à frente a aprovação da terceirização e a criminosa proposta de reforma da Previdência.
Tampouco, até porque são cúmplices da trama, os diferentes comentaristas lembraram do tratamento diferenciado que a mídia deu aos protestos do dia 26. Claramente, os canais de televisão, como a Globo e a Globonews, bem como a própria Jovem Pan e suas coirmãs, além dos jornalões (Folha, O Globo, Estadão) tiraram o pé do acelerador na divulgação dos eventos.
Se antes dedicavam um espaço considerável à divulgação prévia e à cobertura das manifestações, quase sempre turbinadas e azeitadas pelos vazamentos e factoides da Lava Jato (condução coercitiva de Lula, divulgação do grampo da conversa telefônica do Jararaca com Dilma, desta vez o apoio foi pouco mais do que protocolar.
Ou seja: ficou claro que, para a o alto comando do golpe (PMDB, PSDB, DEM e mídia tradicional), a mobilização da classe média enraivecida com o governo petista, miseravelmente manipulada durante o processo de impeachment, tinha prazo de validade. Tendo cumprido o seu papel, tornou-se tão descartável e incômoda quanto o barulho de suas panelas.
Não por acaso, como aconteceu em São Paulo, os políticos que se aboletaram no poder com Temer, sumiram da avenida Paulista – a exceção ficou por conta do senador goiano Ronaldo Caiado, do DEM.
Na falta deles, as personalidades mais destacadas que compareceram foram a ex-namoradinha do Brasil em atividade, Regina Duarte, o ator pornô aposentado Alexandre Frota e o humorista sem graça Marcelo Madureira.
É preciso desenhar?