Em meio a uma grave crise política, detonada com as declarações de Mirian Dutra e a descoberta de que a irmã da ex-amante de FHC, Margrit Dutra Schmidt, é funcionária fantasma do gabinete de Serra no Senado, o PSDB se prepara para decidir internamente o seu candidato a prefeito de São Paulo nas eleições deste ano.
A uma semana das prévias, o quadro é de indefinição.
Há quem diga que João Doria, apoiado por Geraldo Alckmin, está na frente. Outros garantem que é barbada a vitória de Andrea Matarazzo – conta com apoio dos vereadores, de FHC e Serra e da ampla maioria dos deputados estaduais do partido.
Ricardo Tripoli corre por fora mas ninguém ousa classificá-lo de “azarão”. A seu favor, duas coisas: é o deputado federal mais votado do PSDB na capital e tem apoio de dois cabos eleitorais pra lá de eficientes. José Anibal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, que conhece os diretórios zonais como a palma da mão, e João Câmara, que presidiu o partido num dos momentos mais ricos da história do PSDB na capital: durante a gestão da prefeita Marta Suplicy – Lea, secretária de Câmara no diretório municipal, era a personagem que interpretava e dava vida à lenda viva “Martaxa, a Rainha das Taxas”.
João Câmara brigou com Serra em 2012 e “rasgou” a sua filiação. Não engoliu a “carteirada” do agora Senador – Serra de última hora melou o processo de prévias daquele período e impôs a sua candidatura, aliás como já havia feito em 2004. Mesmo sem direito a voto, Câmara continua sendo um dos quadros mais queridos e influentes do PSDB na capital e seu apoio pesa, sim, em favor de Tripoli.
Neste ano, também houve quem quisesse melar as prévias: um mês atrás FHC se posicionou contra a disputa, alegando que podia trazer conseqüências irreparáveis ao partido. Sua opinião contagiou caciques, mas não teve ressonância na base.
O processo acabou mantido. E o pau tá comendo, com encontros abarrotados de gente, guerra de bastidores e promessas de que, desta vez, os filiados vão participar da gestão em caso de vitória.
Na internet, o clima esquenta cada vez mais nas redes internas do partido, especialmente em grupos de WhatsApp. Os principais protagonistas são os defensores de João Doria e Andrea Matarazzo. “A disputa está bem equilibrada”, conta o coordenador do mais importante deles, o Cutucano, Edson Marques.
“O pessoal do Tripoli se posiciona menos, mas com excelente conteúdo”, diz ele, para explicar o recente episódio em que dois filiados, Henrique, apoiador de Andrea Matarazzo, e Fábio Bel, partidário de João Doria, pegaram sete dias de gancho. “Pensamos em dez dias, mas aí descobrimos que eles não teriam mais tempo para trabalhar neste primeiro turno e então reduzimos para sete”, conta Edson Marques.
Na quinta-feira que vem, dia 25, Henrique e Flávio voltam à ativa, três dias antes da eleição que acontece no domingo, 28. O que os coordenadores esperam é que eles deixem de lado agressões como alegar que João Doria, enquanto empresário, financia campanhas petistas, ou cobrar do grupo de Andrea Matarazzo posição com relação ao respeito aos direitos humanos por sua pré-candidatura receber alegremente o apoio do coronel Telhada.
O DCM solicitou a apoiadores de cada pré-candidatura que dessem um depoimento, explicando os motivos da sua preferência.
Leia e tire as suas conclusões:
Evandro Losacco*: João Doria
“45 neles”
Meu apoio a João Dória se deve aos seguintes pontos:
– Sua história política. Homem que começou a militar pelas mãos de Franco Montoro. Era o seu braço operacional na Campanha das Diretas e, depois, na campanha de Tancredo Neves. Foi Secretário de Turismo do Prefeito Mário Covas, onde o acompanhava nos famosos mutirões;
– Sempre apoiou o PSDB, mesmo antes de ser filiado, ajudando nas campanhas majoritárias dos nossos candidatos;
– Pela sua disposição e garra. Ele se inscreveu nas prévias do PSDB e arregaçou as mangas, indo aos quatro cantos da cidade, conversando com a militância, ouvindo os seus problemas e reivindicações, sempre com humildade e atenção. Tomou um verdadeiro “banho de Partido”.
– Traz uma visão nova e arrojada dos problemas da cidade. Tem coragem política para enfrentar os desmandos da atual gestão, articulação com vários setores da sociedade e quer transformar São Paulo em uma cidade moderna, atraindo recursos da iniciativa privada e voltada para a boa gestão como forma de diminuir as mazelas sociais.
– Por último, por se tratar de uma pessoa íntegra, honesta, com vontade de servir e que vem fazendo uma campanha irrepreensível, jamais agredindo seus oponentes e reafirmando sempre o seu compromisso com o PSDB, seja quem for o vencedor.
As prévias, que sempre defendi internamente como a melhor forma de escolha dos nossos candidatos majoritários, estão movimentando o partido, com uma participação nunca vista. Os candidatos fazem reuniões, encontros, seminários, apresentam propostas, discutem com a militância, valorizando o papel do filiado no processo. Além da grande repercussão na mídia: apesar de algumas pessoas do partido passarem uma imagem negativa da disputa, a cobertura das prévias está repercutindo em toda a sociedade e vai fazer com que o vencedor chegue alavancado para a disputa municipal.
Considero Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli bons nomes para levar a bandeira do PSDB. Tripoli é um grande deputado, tem defendido com vigor a causa ambiental, já foi vereador e secretário estadual. Matarazzo é um dos melhores vereadores da cidade. Defende questões com propriedade e conhecimento. Enfim, o PSDB é privilegiado por ter três excelentes nomes, com condições de governar bem São Paulo.
O PSDB merece vencer a eleição por ser um partido sério, comprometido com o interesse público e que já vem mostrando a sua qualidade na gestão pública no Governo Estadual há mais de 20 anos e que quando esteve na Prefeitura, com José Serra, fez uma grande administração, que deixou saudades.
São Paulo está parada. Nossa cidade precisa acelerar rumo ao desenvolvimento social e resgatar a sua pujança econômica. 45 neles!
*Membro do diretório zonal da Saúde
Wagner Tronolone*: Andrea Matarazzo
“O mais preparado”
Andrea Matarazzo tem um conhecimento profundo da cidade. Tanto das suas realidades e prioridades, quanto da própria máquina da prefeitura. Ou seja, não vai aprender a ser prefeito no cargo, já está preparado para isso. Quando ele elege como prioridade o desenvolvimento da periferia como motor para o desenvolvimento de São Paulo, e propõe pequenas intervenções de interesse local em vez de poucas grandes obras, carrega essa visão socialdemocrata de transformação da realidade social. Outro ponto importante é a disposição dele em enfrentar a questão da regularização fundiária, que impede o desenvolvimento e até mesmo a oferta de equipamentos públicos nas áreas mais carentes da cidade. Então, para mim, o Matarazzo é o candidato que representa o que o PSDB tem de melhor e mais alinhado à sua história e programa partidário.
A militância do PSDB há muito anseia por mais participação nas decisões do partido. E neste momento, com o quadro que temos, as prévias acabam representando uma escolha de rumos ideológicos que o PSDB quer trilhar.
Ricardo Tripoli é um quadro orgânico e histórico do PSDB, um deputado atuante com foco nas questões de meio ambiente e defesa animal. Talvez essa atuação temática seja um limitador para que ele possa ser visto como uma liderança política num sentido mais amplo. Mas é, sem dúvidas, um candidato com qualidades, assim como as lideranças que o apoiam.
De Dória não tenho muito o que falar. Descobri que ele era filiado ao PSDB no dia em que anunciou a pré-candidatura. Nem tenho como comparar o que ele diz com seus atos e posicionamentos passados. E algumas das propostas que ouvi dele não me parecem alinhadas com a história e a ideologia do PSDB. Não é nada pessoal, mas a minha avó dizia que “a gente só conhece alguém depois de dividir um prato de sal”, ou seja, passar por bons e maus momentos juntos, e nestes 15 anos como filiado do PSDB ele não esteve presente, não participou das discussões, mobilizações, disputas, etc. Então eu preferiria que ele tivesse dado essa importância à atuação partidária para contribuir com o fortalecimento do partido, e depois pleitear ser nosso representante em uma eleição tão importante para o futuro do PSDB. Conhece o samba do Jorge Aragão que diz “respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”? Acho que ele está pulando algumas etapas que eu, como militante, considero importantes.
Eu sou filiado ao PSDB porque me identifico com o programa do partido, com suas lideranças, com o histórico de avanços proporcionados por gestões do PSDB em várias áreas. Então, claro que minha tendência é acreditar que o PSDB tem a capacidade de oferecer bons quadros, boas experiências e boas propostas. Dentro do cenário de polarização entre PT e PSDB, e com o fato constatado de que a gestão do prefeito Fernando Haddad é mal avaliada – porque de fato é bem ruim -, claro que uma candidatura do PSDB já começa a eleição com grandes chances. E isso só aumenta nossa responsabilidade em apresentar a São Paulo um candidato com conhecimento e capacidade para fazer uma gestão que realmente melhore a vida das pessoas e, consequentemente, se torne um bom exemplo daquilo que o PSDB tem de melhor.
*Membro do diretório zonal da Bela Vista
Fábio Fortes*: Tripoli
“São Paulo está triste”
Meu voto vai para o Ricardo Tripoli em primeiro ligar por lealdade: eu acompanho o ex-deputado José Anibal, atual presidente do Instituto Teotônio Vilella, desde 1998. E o nosso grupo entendeu que o Tripoli era a melhor opção, por isso estamos pedindo voto pra ele.
Tripoli é um parlamentar atuante. Tem oito mandados: vereador, três de deputado estadual e está na quarta legislatura no Congresso. Ele é permanentemente atualizado com as questões da cidade e do desenvolvimento sustentável. Suas sucessivas boas votações são uma demonstração clara da sua capacidade. E, importante dizer, nada o desabona na vida pública, algo raro no Brasil. Trípoli é o que podemos classificar de “candidato ficha limpa”.
As prévias representam o rejuvenescimento do PSDB. É o pré-aquecimento da campanha. Uma novidade que chegou para ficar. Movimentou o partido, os militantes estão tendo a chance de participar do debate e influir na decisão. O lado negativo é a ausência de debates entre os candidatos. É algo que precisa ser corrigido.
Com relação aos outros dois candidatos, conheço o Andrea Matarazzo. É um político experimentado, que conhece a cidade e tem o DNA de São Paulo. João Doria estou conhecendo agora. Um empresário bem sucedido que se apresenta de uma forma diferente. Seu estilo de fazer política lembra o modelo americano, com jingles e forte apelo emocional. Não estou entre os que o condenam por não ter vivência partidária. Se é filiado ao partido, é legítima a sua pré-candidatura.
Penso que chegou a hora da social-democracia retomar o poder na cidade. Nosso perfil é de administrações responsáveis e que integrem a cidade, e é disso que São Paulo precisa neste momento. O paulistano está triste. Vamos recuperar a auto-estima da cidade.
*Membro do Diretório zonal de Perdizes