Há uma onda de cobrança de um mea culpa da direita ou do Exército diante da revelação do documento da CIA de que o extermínio era política de estado no governo “de abertura” de Ernesto Geisel.
“A gente fala muito da falta de auto-crítica da esquerda brasileira. Mas a da direita… Os militares em relação ao passado de execuções e tortura dão uma de João sem braços e pernas”, escreveu Marcelo Rubens Paiva no Twitter.
É de uma ingenuidade colossal. Por um motivo simples: eles estão total e completamente de acordo com a matança.
O único general que se manifestou, Girão Monteiro, da reserva, deu uma declaração num tom homoerótico.
“A espada do Oficial deve ser usada em defesa da Pátria e da honra. Assim o fizemos no passado, fazemos no presente e o faremos no futuro”, falou, sem revelar o nome do oficial.
Bolsonaro perguntou: “cadê os 104 mortos?”
Completou: “O momento era outro. Ou a gente botava para quebrar, ou o Brasil estava perdido. Se tivéssemos agido com humanismo ao tratar esse foco de guerrilha, teríamos no coração do Brasil uma Farc. E graças aos militares daquela época, não temos”.
Esperar que esse pessoal encontre algum erro num governo que matava “comunistas” é pregar no deserto.
Tão infrutífero quanto exigir que as panelas voltem a soar por causa da quadrilha de Temer. Ora, os protestos nunca foram contra a corrupção.
É preciso aceitar, humildemente, que o lado de lá não tem os mesmos valores.
Não existe culpa ou reflexão a fazer. Os cadáveres mereceram.
Eram eles ou nós. Graças a Deus por Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo (e psicopatas como Fleury, Ustra et caterva).
Seu amigo, sua tia ou sua sogra defendem torturadores. E não é um relatório da CIA explicitando a existência de uma máquina de execuções que vai fazê-los mudar de ideia.
Não dividimos a mesma gramática. O Brasil falhou. Falhamos a vida, lacrou o Ega de Os Maias. É melhor jair se acostumando e parar de mimimi.
Amanhã vai ser outro dia.