O Ministério Público Federal está pedindo o cancelamento das três outorgas de radiodifusão da Jovem Pan. O motivo, como se pode imaginar, é a opção preferencial pelo golpismo, patente no comportamento da emissora ao longo dos últimos anos.
Conhecida também como “Jovem Klan”, ela reuniu a fina flor do reacionarismo brasileiro em sua equipe. Não se trata só de reacionarismo. A desinformação é a matéria-prima principal de jornalistas e comentaristas da emissora.
Alexandre Garcia serve de exemplo. Defensor da cloroquina, negacionista climático, saudosista confesso da ditadura militar à qual serviu, apologeta da violência política, inimigo dos direitos humanos, bolsonarista fanático, não deixa a verdade factual atrapalhar a campanha que faz em favor de suas convicções. Há quem, como a jornalista Giuliana Morrone, julgue que está gagá. Mas a idade avançada pode comprometer a capacidade cognitiva. Não mexe no caráter.
A Jovem Pan chegou a demitir gente como Augusto Nunes, Paulo Figueiredo, Zoe Martínez, Rodrigo Constantino, na tentativa de limpar a própria barra. Em vão. Ela continua sendo o que é.
O direito de explorar uma emissora de rádio ou de televisão vem junto com um conjunto de deveres. A ausência de um marco legal que regule a mídia torna a situação menos clara do que o desejado, mas ainda assim se sabe que as concessões devem servir ao direito à informação que está definido no artigo 5º da Constituição Federal.
É direito à informação – não desinformação. Ao propagar mentiras, de forma consciente, deliberada e permanente, a Jovem Pan viola os termos básicos que permitem que opere as emissoras que o Estado lhe concedeu.
A mídia brasileira precisa de mais pluralidade – precisa dar espaço a diferentes visões de mundo e interesses sociais. Hoje, como regra, está dividida entre alinhamentos com a direita e com a extrema-direita, com alguns veículos cedendo algum espaço para causas “identitárias” emancipatórias, mas nenhum dando voz à classe trabalhadora.
Mas a pluralidade que se quer é de perspectivas, de valores, de agendas. Não uma pluralidade de versões mentirosas da realidade.
O registro da mídia corporativa brasileira é muito ruim. Mesmo aí, a Jovem Pan se destaca por ser pior. Cancelar as outorgas é justo e legítimo.