A lição de tolerância para pais e filhos do “Touro Ferdinando”. Por Roger Worms

Atualizado em 20 de fevereiro de 2018 às 7:49

A animação “Touro Ferdinando”, requentada pela Pixar a partir de um clássico da Disney, com direção do brasileiro Carlos Saldanha, cai como uma luva em momentos de afirmação de gêneros.

Põe em xeque a cultura do “macho alfa” pregada pelo modelo machista do “toureiro espanhol”: soberbo, onipresente, um ser escolhido por “Deus”….

Ele é retratado de maneira hilariante no filme, que reserva momentos de sorrisos e emoção aos pequeninos e aos adultos em geral.

O livro em que o filme se baseia foi lançado em 1936, nove meses antes da eclosão da Guerra Civil Espanhola.

Naquele período, adeptos do ditador Francisco Franco o classificaram como pacifista, sendo proibido em muitos países que adotaram modelos fascistas de governo. Por outro lado, devido à proibição por esses regimes, o pequeno romance foi promovido à condição de livro de ideologia esquerdista.

Munro Leaf o teria escrito em uma única tarde, em 1935, sob encomenda do ilustrador Robert Lawson. Em 1938, a Walt Disney Company adaptou-o num curta-metragem que lhe rendeu o Oscar.

Em tempos de afirmação pansexual e libertária, chega às telas um filme cujas palavras de ordem são a diversidade e a tolerância.

Ferdinando é um contraponto, um desvio na curva da raça dos miúras que sonham com o embate, o suor e o sangue das arenas.

Segundo o historiador Ivan Feijó, “as touradas a pé profissionais se tornaram o amálgama geográfico cultural no século XVIII de uma sociedade aglutinada por um ritual espetacularizante, onde uma rigorosa estética se configurou como o cumprimento indissolúvel de uma nova ética burguesa”.

Uma Espanha unida pela adrenalina e sacrifício animal.

Imagine um Touro que se recusa ao confronto entre seus pares, não quer ser escolhido para uma “tourada em Madri” e se dedica a cuidar de flores em uma Espanha ainda arcaica.

Excluído e confiante de suas opções pacifistas, o bicho vive contra tudo e todos.

A trama foi bem amarrada e a direção alterna com eficiência momentos de comédia explícita e crítica de comportamento.

Uma boa diversão, talvez um pouco subversiva para os padrões norte americanos.

Sério candidato a Oscar de melhor animação ( próximo 4 março de 2018) é um filme para crianças e adultos refletirem sobre os valores de suas escolhas e a dignidade em preservar seus princípios.