Sergio Moro aceitou o convite de Bolsonaro de tocar uma versão turbinada do Ministério da Justiça, agora fundido com o da Segurança Pública.
É uma retribuição simbólica: Moro chutou Lula da eleição deste ano, abrindo caminho para a vitória bolsonarista. Em 2022, quem sabe, é a vez de SM.
A Lava Jato, desta maneira, é desmoralizada por seu principal ator.
O juiz maringaense está seguindo os passos de seu modelo Antonio di Pietro, ex-magistrado do Ministério Público italiano, artífice da Mãos Limpas.
SM segue o script que escreveu em 2004 sobre a operação que ele chama de “uma das mais exitosas cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa”.
“Esta havia transformado a Itália em, para servirmo-nos de expressão utilizada por Antonio Di Pietro, uma democrazia venduta (‘democracia vendida’)”.
Di Pietro interferiu no resultado de eleições.
Ajudou a derrubar o governo de Giuliano Amato em 1993 e obteve a condenação à prisão o ex-primeiro ministro socialista Bettino Craxi.
A destruição dos principais partidos do país desembocou no fanfarrão Silvio Berlusconi — que ofereceu a Di Pietro o cargo de ministro do Interior, responsável pela polícia e pelo Ministério Público.
Ele negou.
Largaria a Mãos Limpas para aceitar em 1996 o Ministério de Obras Públicas de Romano Prodi.
Desde então foi eurodeputado, deputado, senador, ministro.
Chegou a ser a figura mais popular da Itália.
Classificado como “centro esquerda” — algo entre Ciro Gomes e Dadá Maravilha –, Di Pietro nunca decolou politicamente.
Fundou um partido, Itália dos Valores, que abandonaria em 2014.
Em março deste ano, rejeitou participar da eleição para governador de Molise, onde sua família produz azeite.
Uma emissora local lhe telefonou e perguntou se ele confirmava a candidatura.
“Não, obrigado. Acabei de chegar para podar as oliveiras e devo cuidar da plantação”, falou.
Em 2016, falou o seguinte à BBC Brasil: “Tenho certeza de que o colega Sergio Moro está fazendo o seu trabalho com o único objetivo de cumprir o seu dever de juiz e, certamente, não sob influência de ambições políticas.”
Pois é.