Merval surtou.
É a única explicação possível para ele invadir a conta do Facebook de um jornalista que criticara seu artigo de ontem no Facebook.
O jornalista, Luís Costa Pinto, chamou o texto de Merval de pornográfico e golpista.
No meio de uma discussão animada, eis que irrompe, do nada, Merval e se defende atacando Luís.
Chamou-o de “ex-jornalista” e disse que ele estava envolvido no Mensalão.
Merval cometeu um erro clássico: acusou o golpe. Alguém – um amigo com um secreto prazer em transmitir insultos — deve ter feito chegarem a ele as palavras de Luís.
Sempre temos um amigo que se compraz com isso. Não surpreende. A surpresa foi Merval reagir. Foi como se ele dissesse: “Essa doeu.”
A curiosidade me levou a procurar e ler o artigo de Merval. Encontrei-o no site da Veja, no blogue de Augusto Nunes.
Nunes, célebre pela preguiça agitada, costuma reproduzir textos alheios em seu blogue, uma forma de se livrar do trabalho de escrever ele mesmo.
Para resumir: Luís estava certo.
Ali estava Merval numa louca cavalgada, fazendo panfletagem política e não jornalismo.
Parece ainda em campanha.
Ele disse coisas como a seguinte: o PT levou a corrupção a tal grau, e com tamanhas consequências na economia, que os investidores estrangeiros estão fugindo do Brasil.
Aécio disse a mesma coisa algumas vezes em sua fracassada campanha, e lembro que Dilma jamais rebateu com propriedade – números, estatísticas, essencialmente.
Os dados objetivos sobre o assunto existem. Basta querer, ou saber, encontrá-los.
Exatamente no mesmo dia das palavras apocalípticas de Merval, a BBC Brasil fez uma reportagem sobre os investimentos estrangeiros no país.
O objetivo era checar se a desaceleração da economia tivera efeito sobre os investimentos estrangeiros.
A BBC jogou luzes nas sombras, ao contrário de Merval, que jogou mais sombras onde já havia sombras.
Abaixo, um trecho:
“ … o fluxo de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) para o Brasil continua em patamares elevados.
Nos últimos 12 meses, tal fluxo atingiu US$ 66,5 bilhões, segundo dados do BC – mesmo nível de 2011, quando o Brasil ainda era o queridinho entre economias emergentes. Em 2010, quando o PIB se expandiu 7,5%, o IED ficou na casa dos US$ 48 bilhões.
Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) parecem confirmar o fenômeno. De acordo com a Cepal, o IDE para o Brasil aumentou 8% de janeiro a agosto na comparação com 2013. Já na região como um todo, os investimentos estrangeiros caíram 23%.”
Quer dizer: o leitor brasileiro, para se informar sobre o estado de espírito dos investidores brasileiros, tem que ler a BBC.
A BBC ouviu a executiva Irene Mia, diretora para América Latina e Caribe da Economist Intelligence Unit, a EIU. É uma divisão do grupo Economist, que edita a revista tão usada pelos conservadores brasileiros nas eleições por suas críticas a Dilma.
A EIU, ficamos sabendo, tem planos de abrir um escritório em São Paulo até o final do ano, para “melhor servir seus clientes brasileiros e estrangeiros focados no Brasil”.
“A atratividade do Brasil para o IDE permanece enorme”, disse a executiva à BBC.
A atratividade do Brasil, conforme explicam os investidores, está ligada ao tamanho do mercado brasileiro.
A BBC ouviu Olavo Cunha, do Boston Consulting Group. “O mercado de cosméticos brasileiro é o terceiro maior do mundo, o automobilístico é o quarto maior e o de laptops, o terceiro”, disse ele.
“Muitas multinacionais sentem que precisam ter um plano para o Brasil para os próximos dez, vinte anos. E mesmo aquelas que já têm uma forte presença no país, como a Nestlé ou a Unilever, por exemplo, precisam fazer investimentos para manter sua fatia do mercado no longo prazo.”
Em quem acreditar: nos números, nos fatos, na executiva Irene, no consultor Olavo ou em Merval?
Merval acusou Luís Costa Pinto de ser “ex-jornalista”, por não estar militando nestes dias na imprensa.
A definição cabe muito melhor para ele próprio, no entanto.
Ao fazer propaganda política e partidária disfarçada de jornalismo, desinformando e manipulando leitores inocentes, é Merval que faz jus ao título de ex-jornalista.