Marina chegou com uma fórmula que parecia vencedora.
Ela como que propunha combinar Lula e FHC numa só pessoa.
De Lula, os programas sociais. De FHC, a estabilidade econômica.
Ao abraçar o legado de ambos, ela dizia romper a polaridade de duas décadas entre PSDB e PT.
O que era uma força vai-se revelando, na verdade, uma fraqueza.
Não dá para ser, no Brasil de hoje, Lula e FHC ao mesmo tempo. É uma mistura impossível.
A Marina A é Lula. Fala em justiça social e promete investimentos bilionários em saúde e educação.
A Marina B é FHC. Seu programa econômico estabelece um ajuste severo nas contas do governo que, na prática, inviabiliza os investimentos sociais prometidos.
Na sabatina de hoje a que ela se submeteu no Globo, isso ficou claro. Mais de um entrevistador – incluída Míriam Leitão — sublinhou essa contradição.
Marina não conseguiu dar respostas satisfatórias sobre isso. Tergiversou. Disse que as pessoas estavam pensando nas despesas sociais da maneira velha. Não são despesas, mas “investimentos”.
Isso não mudou em nada a contradição que Marina encarna, mas ela pareceu satisfeita com o “novo paradigma” de investimentos sociais.
Caso eleita, qual Marina prevalecerá? A Marina versão Lula ou a Marina versão FHC?
Se depender de seu mentor econômico, o economista Eduardo Giannetti, a Marina versão FHC.
Como uma dona de casa ciosa das contas domésticas, ele disse numa entrevista ao Valor que os compromissos só serão cumpridos desde esteja sobrando dinheiro para isso.
Isso quer dizer: para 2015, os brasileiros devem esperar, como disse Churchill aos ingleses na Segunda Guerra, sangue, suor e lágrimas.
Para colocar as coisas no Brasil atual, são as “medidas impopulares” que Aécio prometeu, no começo de sua jornada presidencial, a um grupo de empresários, na presença de FHC.
Não é um caminho simples, este.
O receituário ortodoxo – aplicado com enorme insucesso em países europeus como Grécia, Espanha e Portugal – fatalmente levará às ruas as mesmas multidões que em junho de 2013 mostraram cansaço com a política tal como se faz no Brasil.
Só que desta vez a indignação recairá sobre Marina, que pareceu a muitos manifestantes uma esperança de um Brasil socialmente melhor.
A Marina versão Lula prevalecerá?
Se sim, sua equipe econômica vai simplesmente implodir. A eleição de Marina, para usar as palavras do Estadão, porta-voz do conservadorismo, seria o “prenúncio de uma crise”.
À medida que a campanha avança, a suposta força de Marina – a combinação de dois legados presidenciais – vai-se revelando sua principal fraqueza.
Parece faltar nexo a sua candidatura, e quando questionada sobre isso ela traz ainda mais confusão onde já não havia clareza.
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