Theodore Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos no início do que seria conhecido como o “Século Americano”. Era um homem que adorava guerras, por achar que elas tornavam mais viril o caráter de um povo. Todas as grandes civilizações, afirmava ele, foram essencialmente guerreiras.
Isso não impediu, naturalmente, que ele ganhasse o Nobel da Paz, em 1906. Gandhi não levou, mas Roosevelt sim. É tão feio que é bonito, como diz minha caçula Camila. Algumas pessoas especulam que o amor rooseveltiano pela guerra vinha de uma lacuna em seu passado. Seu pai, como era costume nos Estados Unidos de meados do século 19, pagou um homem para que o substituísse ao ser convocado para uma guerra. Comprou, um homem rico que era, um substituto. O filho jamais teria superado a imagem que fez do pai como um covarde, segundo alguns historiadores modernos.
A despeito de seu espírito guerreiro, Roosevelt poderia ser uma inspiração para os políticos americanos contemporâneos, tanto republicanos quanto democratas.
Ele comandou reformas econômicas vitais para a modernização dos Estados Unidos, numa época em que a desigualdade social se traduzia em protestos que chacoalhavam o país. Dezenas de milhares de crianças americanas trabalhavam 60 horas por semana em minas e outros ofícios ásperos e perigosos. Na gestão de Roosevelt, as crianças trabalhadoras entraram em greve. Pediam 55 horas por semana, para poderem estudar.
Roosevelt, e este é o ponto, promoveu uma série de mudanças sociais e econômicas. Combateu os monopólios que tinham se formado, com o que ganhou o apelido de Trustbuster (Caçador de Monopólios). Criou leis trabalhistas que melhoraram a vida dos chamados 99%.
Muitos empresários ficaram incomodados com Roosevelt. Em cartas a amigos, ele notou a reprovação de que era alvo entre milionários americanos – e sublinhou: o que eles não percebem é que o que está sendo feito é para eles, não contra eles. Roosevelt, um conservador convicto, sabia que para que a situação fosse mantida, para que a sociedade não se desmantelasse, para que a esquerda não tomasse conta do país, os privilegiados tinham que ceder alguma coisa.
Hoje, passados cem anos, a situação é sob certos aspectos parecida. A grande diferença é que no universo político americano não existe ninguém com a inteligência calculista e prática de Roosevelt – que tinha clareza em que para conservar as coisas como elas são os ricos têm que ceder alguma coisa, ou correm o risco de perder tudo. Às vezes, como na França revolucionária, até a cabeça.