A maior prova da parcialidade de Moro é sua defesa exasperada e inconvincente da imparcialidade. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de julho de 2017 às 11:04

https://www.youtube.com/watch?v=0xgtsdyd4HY

 

Na sentença em que condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão no caso do triplex no Guarujá, Sergio Moro dedica um longo trecho para louvaminhar sua imparcialidade.

É um caso flagrante de quem acusa o golpe.

Um juiz isento — nada além de uma obrigação —, não precisa se defender de não praticar a isenção (à mulher de César não basta ser honesta etc etc). Isso tem que ser dado.

“Os questionamentos sobre a imparcialidade deste julgador constituem mero diversionismo e, embora sejam compreensíveis como estratégia da defesa, não deixam de ser lamentáveis já que não encontram qualquer base fática e também não têm base em argumentos minimamente consistentes”, escreveu em seu mimim.

“Na linha da estratégia da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva de desqualificação deste julgador, por aparentemente temerem um resultado processual desfavorável, medidas questionáveis foram tomadas por ela fora desta ação penal”, prossegue.

“Assim, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assistido pelos mesmos advogados, promoveu queixa-crime por abuso de autoridade e ainda por quebra de sigilo sobre interceptação telefônica contra o ora julgador perante o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região”.

Ou seja, Lula não poderia ter recorrido à Justiça. Seu dever era permanecer calado diante de um roteiro de arbitrariedades.

Ele vai além.

Apesar da atitude dos defensores de Lula em fazer, ao fim e ao cabo, nada mais do que seu papel, “cumpre ressalvar que estes fatos não afetam a imparcialidade deste Juízo.”

Moro em evento de João Doria

Novamente, Moro se justifica diante de uma obviedade. Só faltava, veja bem, ele retaliar aquele pessoal. Na verdade, é exatamente o que faz.

Esse telhado de vidro está evidente nas palestras que promoveu em sua cruzada moralista.

Segundo o Uol, Moro percorreu treze cidades de nove estados no Brasil e outros seis no exterior para realizar 46 conferências desde que a Lava Jato teve início em março de 2014.

Apresentou-se em dois eventos do Lide, grupo empresarial de João Doria Jr., militante tucano desde criancinha, fundador do inesquecível movimento pilantra Cansei. Um foi em São Paulo em 2015, outro em Curitiba em 2016.

Ele também falou na Editora Abril e na Globo. Subiu ao palco para ganhar o “Prêmio Faz Diferença” e foi Brasileiro do Ano da Istoé, empresa mais ficha suja que pau de galinheiro, quando protagonizou fotos explícitas com Aécio Neves.

Moro tentou explicar que o show no Lide ocorreu “muito longe das eleições de 2016, quando nem sequer João Doria havia sido definido como candidato”. Muito longe??

Também brilhou num convescote do governo do Mato Grosso em dezembro último a convite do governador Pedro Taques, do PSDB.

Taques foi citado por um empresário num esquema de corrupção na Secretaria de Educação daquele estado. Propina era cobrada para quitar dívidas “não declaradas” da campanha de 2014.

É absurdo, insano, inadmissível questionar a imparcialidade de Sergio Moro. Ainda que ele produza provas contra si próprio.