As respostas não seguiram as perguntas, e os números pareciam fabricados ao sabor das circunstâncias
O debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo foi o triunfo da confusão.
O telespectador foi bombardeado com uma massa desconexa e conflitante de estatísticas que pareciam ter zero em credibilidade, ou algo próximo a isso. Fora isso, as respostas dos candidatos – sobretudo as de Serra — raras vezes coincidiam com as perguntas.
Maluf foi pioneiro nisso – um especialista em falar a mesma coisa qualquer que fosse a pergunta que lhe fosse dirigida. Se Maluf tivesse a intenção de falar na temperatura da cidade, não adiantava você perguntar a ele que horas eram. Estava fazendo 20 graus e pronto.
O ponto alto do duelo dos números se deu em torno da entrega de casas populares por administrações tucanas e petistas. Haddad e Serra, amparados em levantamento alegadamente oficiais, brandiam um total de casas que, de um para o outro, variava de x a 3x ou 4x.
O espectador era obrigado a seguir a intuição. Eu, por exemplo, fiquei com a sensação – repito, sensação – de que Serra tirou alguns números da própria cabeça durante o debate, como se estivesse num leilão e sistematicamente ampliasse a cifra que alguém grita.
Nos debates presidenciais americanos, também existem guerras de estatísticas. Mas a mídia tem comparecido na cobertura online para checar informações.
No Brasil, pelo que pude ver, esse trabalho de checagem jornalística não existe. Pessoalmente, desliguei a tv com uma imensa curiosidade sobre a questão das casas populares. Mas não tive a esperança de ver essa dúvida tirada pelo exército de jornalistas que cobrem as eleições paulistanas.
Não é muito fácil a vida de eleitor no Brasil.