A melhor Copa do todos os tempos?

Atualizado em 20 de junho de 2014 às 12:12

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Parece ter ficado para trás aquela preocupação com a capacidade da Copa do Mundo no Brasil causar uma exposição de mazelas capaz de enxovalhar o país mundialmente. O país está sendo aclamado, justamente lá fora, como sério candidato a estar realizando a melhor Copa do Mundo da história. E é o povo que está salvando um evento que, na esfera institucional, teve superfaturamento, atrasos e ineficiências. É verdade que o governo é sempre o reflexo do povo que o elege. Mas há também momentos em que a sociedade civil, atuando diretamente, é maior do que as instituições que a representam. Penso que esse é um momento assim. Apesar de uma manifestação violenta reprimida com ainda mais violência aqui, de um assalto a gringos ali, de pequenas ineficiências em nossos serviços acolá.

Jason Davies, repórter da ESPN Internacional, cravou no seu Twitter: “Se a Copa do Mundo no Brasil continuar assim, que todas as Copas do Mundo sejam no Brasil”. Esse parece ser o espírito do mundo diante do nosso país, nesse momento. Não poderia ser melhor. Isso, amigos, é bom para o país. Independente do governo de plantão. Pensemos um pouquinho mais a longo prazo. E com sentido de nação, e não de grupelhos políticos. Esses, mais dia ou menos dia, passarão. O Brasil permancerá.

Apenas não esqueçamos de cobrar tudo aquilo com o que não concordamos, e com muita razão, tintim por tintim, a quem de direito e na hora certa. Mas, por ora, quem quiser ficar de fora desse movimento espontâneo e global, que caminha no sentido da alegria e da felicidade humanas, estará sabotando a si mesmo e ao país, muito antes de estar sabotando uma ideia ou um projeto.

A RFI, Rádio França Internacional, faz coro: “Uma semana após o começo da Copa do Mundo, a imprensa internacional é só elogios para o Brasil. Alguns jornais já chegam até mesmo a sugerir que este Mundial é o melhor de todos os tempos. A cordialidade dos brasileiros aliada à boa qualidade dos jogos parece ter apagado da memória o pessimismo que pairava há até uma semana, quando teve início o evento. O pessimismo e as preocupações não eram poucos, lá fora e aqui dentro também. Hoje o que se vê é uma razoável tranquilidade e uma crescente euforia. Segue o texto da RFI: “Apesar de alguns percalços, a organização conseguiu superar as expectativas extremamente negativas antes do início desta Copa. Os elogios da imprensa internacional invadiram as redes sociais nos últimos dias e fizeram coro com a empolgação dos jogadores e dos torcedores brasileiros e estrangeiros.”

A SEDUÇÃO BRASILEIRA

E pelo jeito não é só entre a imprensa internacional que a empolgação com a Copa do Mundo no Brasil ganhou espaço.

Veja o caso desse professor inglês que largou tudo para vir para cá, assistir a Copa. Esse cidadão, Mark Williams, teve a clareza do quão única era essa oportunidade, e não teve dúvidas do que fazer. Na vida, há chances únicas, que não voltam mais. A Copa, para o Brasil, como país, é um desses momento.

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Sorry, Mark Williams

Outro que está gostando do que está vendo e vivendo por aqui é Bastian Schweinsteiger, craque alemão. “Estamos dominados pela febre brasileira”, disse ele.

CRISTIANO RONALDO E SUA IMAGEM NO TELÃO DO ESTÁDIO

Sempre que vejo uma menina muito bonita, e dependente e escrava da própria aparência, penso no desespero que ela sentirá em poucos anos, quando a embalagem começar a murchar e ela se der conta de que nunca deu muita bola para o recheio. Cristiano Ronaldo, com sua obsessão pela própria imagem, me causa o mesmo tipo de pensamento.

CR7 tem tesão físico por si mesmo. É um caso de autoestima sexual. Se procurasse menos a si mesmo nos telões dos estádios, e mais aos companheiros em campo, jogaria, é provável, ainda muito mais do que já joga.

E sobre a derrota acachapante de Portugal contra a Alemanha. Um CR7 só não faz verão. Nem é qualquer craque que consegue jogar pelo time e carregá-lo nas costas. A esquadra portuguesa está arrasada. Muito mais do que a partida, Portugal perdeu em Salvador o favoritismo ao segundo lugar no grupo, que lhe garantiria passar às Oitavas. Ao que parece, quem passará são os Estados Unidos – o país que trouxe o maior número de torcedores ao Brasil. Esta, que está sendo uma copa sulamericana, também pode ser a Copa em que os americanos de fato, pela primeira vez na história, vão sentir de verdade as paixões do futebol.

JOVENS CRAQUES NO EXÍLIO

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Não ia falar, mas o jogo do Maracanã, no domingo passa, me consolidou a impressão de que para Messi a Argentina é um peso. O cara nunca jogou lá, não mora lá desde menino, e por tudo, para o futebol, ele é um espanhol. E acho que ele se ressente muito dos companheiros que falam castelhano com a língua presa. Messi combina mais com a Fúria do que com La Seleccíon. A camisa 10 da Argentina pesa sobre Messi. É a única situação em que há desconfiança sobre ele, em que ele se sente em dívida. Penso que CR7 também é um exilado na seleção portuguesa. É uma obrigação que o prende a um time fraco, diferente daqueles que ele se acostumou a defender ao longo da carreira. Sinto o mesmo quando vejo Eto’o ou Drogba tentando empurrar seus times adiante. Craques no exílio – e a terra estrangeira não são os times em que jogam na Europa, mas as seleções de seus próprios países.

LINDAS E INESQUECÍVEIS BATALHAS CAMPAIS

O país do futebol arte, e onde o “beautiful game” realmente virou uma coisa bonita, a ponto de Sócrates ter declarado um dia que o que realmente importava era a beleza do espetáculo, ficando a vitória em segundo plano, tem sido brindado com jogos sensacionais. Nunca o futebol foi tão bem jogado. Pouquíssimas faltas, raros cartões, quase nenhum tempo de bola parada, times velozes, tocando bem a bola, com grande vigor físico e muita vontade de ganhar. O próprio campeonato brasileiro teria muito a ganhar se analisássemos pedagogicamente a atitude das equipes que estão estreando nossas arenas. O Cruzeiro, entre nós, a rigor, é o único time que tem jogado um futebol parecido com esse que está sendo praticado na Copa.

E o que é uma Copa do Mundo? São 64 finais de campeonato disputadas até a última gota de suor em 30 dias.

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Uma palavra sobre o jogaço entre Uruguai e Inglaterra, ontem, no Itaquerão. Exatamente no fato de ninguém estar falando nada dele nesse momento, e de todo mundo estar exaltando seu frienemy no ataque uruguaio, e seu companheiro e competidor em idolataria no imaginário futebolístico uruguaio, é que reside a grandeza de Cavani. Que, aliás, deu o passe para o primeiro gol uruguaio e ajudou a marcar lá trás como se fora um volante de contenção. Esse tipo de doação pessoal, e de supressão do estrelismo em nome de um objetivo maior e coletivo, é coisa para poucos. Parabéns, Suárez. Parabéns, Cavani. Parabéns, Uruguai.