A melhor descrição de João Doria como fraude vem de seu colega de PSDB, Alberto Goldman. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de setembro de 2016 às 22:06
Eles
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A definição mais precisa de João Doria veio de um colega de partido, Alberto Goldman, em seu blog.

Goldman, ex-governador, é inimigo de Alckmin e faz parte da facção de Serra no PSDB.

Em entrevistas, acusou Doria de comprar votos, boca de urna no dia da votação da “prévia” e violação da Lei Cidade Limpa por uso de cavaletes de propaganda e carros de som.

Goldman, basicamente, afirma que Doria é uma fraude. Nada que Luiza Erundina já não tenha apontado, mas com alguns detalhes extras de boi preto que conhece boi preto.

Reproduzo alguns trechos:

Dória diz não ser político, mas administrador, empresário. Não é verdade. Ele mesmo se vangloria em ter sido presidente da Paulistur, no governo Mario Covas, e presidente da Embratur, no governo José Sarney, ambas empresas estatais da área do Turismo. Seu material de propaganda divulga que foi coordenador da campanha “Diretas Já”, o que também não é verdade.  Exerceu cargos políticos, remunerados, profissionalmente. Agora é candidato a prefeito.

Dória comete um grave erro ao colocar o “político” em contraposição ao “administrador”. No exercício das funções públicas essas duas características não são polos opostos.  Pelo contrário, têm que se amalgamar.  Quando se trata da “administração” da coisa privada bastam os instrumentos de conhecimento – informações, estudos, pesquisas – e materiais – computadores, tratores, enxadas, escavadeiras – que se usa para cumprir as tarefas necessárias para produzir lucros.  Contudo, quando se trata da coisa pública não bastam instrumentos intelectuais e materiais.  É essencial, imprescindível, a visão política, isto é, o resultado social.  A política é a alma das tarefas realizadas para atender o interesse público. É ela que diferencia o público do privado.

Dória se diz empresário. Tem várias empresas, é verdade, e divulga em seu material de propaganda que, através delas, é um dos principais geradores de negócios do Brasil. No entanto, como empresas de eventos, não produzem qualquer bem ou serviço diretamente, apenas estabelecem e ampliam relações entre empresários e agentes públicos (deputados, senadores, secretários, ministros, governadores), atividade lícita que se chama de lobby, que lhe permitiu acumular um patrimônio declarado surpreendente de centenas de milhões de reais. Esse sucesso financeiro o faz afirmar que é um administrador, um gestor.

No entanto, administrar recursos públicos em benefício do povo é uma atividade bem diferente de administrar recursos privados para benefício próprio. São processos e objetivos distintos, nem sempre sem conflitos e contradições, e exigem uma visão política e social de natureza muito especial.

Esse curto período de campanha já permite analisar o seu perfil.  Dória não relutou em usar de todos os recursos lícitos e ilícitos, operacionais e financeiros, para angariar votos em uma prévia que está sendo avaliada pela Justiça Eleitoral. Nesse período prévio a lei veda o uso de quaisquer recursos financeiros para buscar votos para decisão dos filiados ao partido.

Despesas só podem ser feitas pelo diretório municipal, mas ele as fez com recursos próprios. Além disso, não titubeou em usar as relações pessoais com o governador para obter apoios através da pressão de dirigentes do Estado sobre os filiados ao partido.

A sua falta de zelo pela coisa pública ficou evidente quando, conforme apuração da Folha de São Paulo, constatou-se que tomou ilegalmente uma área de terra para somar à sua propriedade em Campos de Jordão.

Na entrevista à Jovem Pan ainda justificou que a incorporação era produto de um acordo de desafetação onerosa, feito com o prefeito anterior do município, em que ele teria trocado o imóvel por algum equipamento doado para a cidade, acordo esse que não foi “homologado”, segundo suas palavras, pela Câmara Municipal do município.

Ora, se não foi “homologado”, não aconteceu, não houve um ato jurídico perfeito. Nunca poderia incorporar bens públicos apenas através de um “acordo” com o prefeito ou com o Executivo municipal. O fato é que tomou a área, mostrou não respeitar a diferença entre o interesse público e o interesse privado e, processado, foi tentar um arranjo que legalizasse o mal feito.

Há pouco, sob as luzes das câmeras de TV, Dória esteve na Escola Marina Cintra, onde estudou por 4 anos (se vangloria em dizer que estudou em escola pública sem citar que também estudou em escolas de elite, o Colégio Rio Branco e a FAAP). Muito emocionado ao ler seu histórico escolar, verteu lágrimas.

Doria diz que vai abrir mão do salário. Para um homem com o patrimônio de centenas de milhões que significado tem isso? Todos os dirigentes públicos que recebem o seu salário não são dignos de respeito? Muitos vivem disso, e só disso, honestamente.  Merecem nosso profundo respeito ou valem menos que Um Dória?

Em outra cena preparada para a TV, Dória visitou o hospital do Campo Limpo e bateu boca com o seu diretor. Sem conhecer a realidade e sem quaisquer escrúpulos provocou enorme constrangimento acusando o diretor de desídia, um funcionário público que muitas vezes luta para dar um mínimo de condições de funcionamento a um equipamento médico em uma época em que todos estão submetidos à má gestão do governante e à penúria de recursos.

Em entrevista ao ser perguntado se vai lotear os cargos da prefeitura, caso eleito, nega que o fará ao mesmo tempo em que justifica a mesma atitude do governo do Estado para obter apoio político para a sua pretensão eleitoral. Uma contradição evidente. Perguntado sobre o acordo com o PP de Paulo Maluf disse que agora o PP não é do Maluf, é do Guilherme Mussi.

Curioso. Mudou alguma coisa?