Era o segundo dia das Olimpíadas de Montreal, em 1976. A esguia e graciosa menina – com um corpo tão diferente do de sua colegas atuais, baixas, fortes e troncudas – havia tirado a nota máxima. Nos demais dias, ela ainda colecionaria atuações perfeitas. Ganhou três medalhas de ouro nas barras e na trave, bem como uma de prata com a equipe, de bronze no exercício de solo e outra de ouro no individual geral (all-around).
Nadia era de uma geração de treinadores famosos pela brutalidade, com rivalidades assassinas no mundo comunista, o que, paradoxalmente, levaria a um período de enorme apuro técnico e de inovação. Bela Karolyi, cujo motor era superar os russos, viu a menina de 6 anos e a levou para a academia que tinha com sua mulher, Marta. A própria Nadia foi hospitalizada, certo dia, supostamente por beber xampu. “Eu não tentei me matar”, disse mais tarde. “A vida é dura para todo mundo. Seria bom se você descobrisse um jeito de ser bem sucedido trabalhando pouco, mas isso não existe”. Não sei se você gostaria de ter um professor de educação física como ele, a não ser numa situação extrema.
Nadia Comaneci nunca seria a mesma. Mais alta e menos magra nos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980, ela conquistou “apenas” duas medalhas de ouro e duas de prata. Tinha perdido, porém, a graça e o espírito. Mas já era tarde demais: tornara-se uma lenda do esporte. Nem seu 10 perfeito poderá ser batido novamente – hoje, segundo as regras da Federação Internacional de Ginástica, o 10 foi “quebrado” em notas A (de partida) e B (de execução).
Aos 50 anos, ainda bonita e elegante, Nadia vive com o marido americano — ginasta como ela — no estado de Oklahoma. Eles se conheceram numa competição, há mais de trinta anos. O casal tem uma academia de ginástica, e um filho de dois anos, Dylan. Que Nadia usa a academia fica claro pela sua silhueta esguia — na qual você enxerga vestígios da garota romena que deslumbrou o mundo em Montreal.