O argentino começa bem já na escolha do nome, em homenagem a São Francisco.
O Diário saúda o papa Francisco.
O compromisso com a transformação já foi dado na escolha do nome, um tributo a Franciso de Assis, o santo pobre, simples, modesto, frugal – tudo aquilo enfim de que a Igreja Católica se afastou no correr dos longos dias.
Não é à toa que nunca nenhum papa antes adotou o nome de Francisco, nos 800 anos transcorridos desde sua morte.
O novo papa, o cardeal argentino Jorge Bergoglio, 76 anos, dá imediatamente, assim, um choque positivo na comunidade mundial de 1,2 bilhão de católicos, castigada por tantos escândalos nos últimos anos.
São Francisco é a referência: esta a mensagem essencial, e extraordinariamente positiva, de Francisco.
Em sua vida prática, Bergoglio tem-se conduzido assim. Ele anda de ônibus em Buenos Aires, e mora num pequeno apartamento em vez do casarão tradicionalmente reservado à mais elevada autoridade da igreja na Argentina. Beijou, recentemente, os pés de crianças com AIDS.
Justiça social é um termo que faz parte de seu repertório — e sem isso, sem que a igreja se reinvente e opte verdadeiramente pelos pobres, nada deterá o declínio católico.
O novo papa tem um bom retrospecto em relação ao sexo. Prega respeito e tolerância perante os gays, e admite o uso de preservativo para evitar contágio.
Poderia ser mais avançado, e admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de filhos de casais gays? Claro que sim.
Mas Francisco I, onde está hoje, já é um progresso enorme no campo do sexo diante de todos os seus antecessores. E já mostrou que é um homem capaz de trocar de opinião se exposto a argumentos que julgue convincentes. Não tem ideias petrificadas, e o casamento gay com certeza será um dos assuntos sobre os quais ele haverá de meditar com mais intensidade em seu pontificado.
Francisco I terá uma tarefa épica para dar outro espírito ao Vaticano, tão distante dos desvalidos e tão próximo de quem já é suficientemente protegido pelo acúmulo de privilégios – os ricos.
Ou a igreja se aproxima do seu povo ou morre abraçada à plutocracia.
É difícil mudar uma paróquia, que dirá um gigante como a igreja.
Mas Francisco I tem o principal instrumento de avanço: ele sabe para onde tem que ir.
Aos 2 000 anos a Igreja Católica está muito velha para inovar e se recriar? Não necessariamente. Epicuro, o grande filósofo, tinha uma máxima notável em relação a mudanças. “Nunca é cedo demais e nem tarde demais” para você aprender uma coisa nova e se transformar, escreveu Epicuro.
Isso vale para qualquer pessoa.
E vale também para a igreja de Francisco I.