A subordinação ilimitada da mídia comercial brasileira aos interesses da elite de poder é uma certeza pública incontestável – e indigesta.
As empresas trucidam o jornalismo para submeter os fatos a moldes narrativos servis à ignorância coletiva e à perpetuação de privilégios.
Essa engrenagem de pusilanimidade é tocada na ponta por resignados, alienados e medrosos capazes de recorrer ao sadismo para desinformar.
Não basta mais omitir assuntos impertinentes aos patrões, escolher ângulos menos desfavoráveis ou diluir a informação para esvaziar o conteúdo.
A práxis atual da submissão satisfaz essa mídia quando frauda a realidade para gerar notícias com poder de ampliar a dor e humilhar setores oprimidos.
A crítica ao aumento na conta de luz derivado de uma gestão incompetente se transmuta em “tome banho mais rápido” para socializar a culpa, punir quem pouco tem e poupar os responsáveis.
O consumidor sofre duplamente – no bolso e na consciência – e vive o incômodo de cortar na higiene em contraste com o prazer dos veículos de proteger os culpados.
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O sadismo virou fonte inesgotável para abordar o agravamento da miséria por obra de uma política econômica em cuja essência está o ódio ao pobre.
Encurralada pela volta da fome e pela carestia do gás, essa mídia perversa defende comer alimento podre, reciclar produto mofado, trocar carne por ovo, apreciar osso, aproveitar fogo a lenha – um escárnio humanitário para tolher vidas e manter o (des)caminho econômico.
O rebaixamento à condição de subumano avilta mais da metade dos lares brasileiros acossados pela insegurança alimentar – recurso estatístico para definir a dura, cruel e impiedosa falta de comida.
A instrumentalização noticiosa do sadismo para abafar o estalo do chicote no povo infectou a percepção sobre os efeitos reais das reformas.
Mudanças previdenciárias e trabalhistas vendidas como paraísos contra cenários de terror desaguaram em empobrecimento, desemprego e desalento para dezenas de milhões de brasileiros.
Nem motorista de Uber – símbolo da precarização do trabalho – sobrevive com combustível caro por obra de uma política energética benéfica aos acionistas e da desmontagem gradual da Petrobras.
Retrocessos dolorosos à economia travestidos pela maldade noticiosa como exemplos de modernidade gerencial – mesmo com prejuízo estendido a quem vive do jornalismo, do patrão ao empregado.
Essa engenharia da construção intencionalmente enganosa dos fatos encontra, na leitura da política, uma zona fértil para mentir e subverter a realidade em desfavor de quem é oprimido.
A voz progressista legítima de oposição sistemática a Bolsonaro – representada pelo amplo apoio à candidatura de Lula – é vilanizada pela insubmissão a facções “dissidentes” do governo.
Imprensa venal
Em um intervalo exíguo de 24 horas, a Folha de São Paulo fez mais de 12 matérias para culpar o PT pela inexpressividade da terceira via – o ajuntamento ínfimo de candidatos sem voto da direita para o mercado substituir Bolsonaro.
A farsa jornalística suprime o encadeamento dos fatos para subtrair a percepção natural e lógica sobre eles: quem apoiou e elegeu é corresponsável pelo regime protofascista do bolsonarismo.
Seria apenas outra ação de má-fé se as notícias se restringissem ao endoso incondicional a esses nomes fracassados – mas o sadismo se sobrepõe.
A esquerda foi vítima de um golpe perpetrado por um conluio político-jurídico-midiático capaz de destituir uma presidenta honesta e levar à cadeia um ex-presidente inocente por 580 dias.
A demonização do campo progressista à revelia da história pressupõe a normalização da submissão do oprimido pelo opressor e naturaliza a provocação de sofrimento para deleite de quem noticia.
Esse conjunto de elaborações distorcidas em forma de noticiário extrapola a afronta aos princípios jornalísticos calcados na responsabilidade social e no respeito ao interesse público.
Transcende a parcialidade e o viés editorial – é concebido para ferir, ampliar desigualdades, piorar a sociedade e tornar mais miseráveis vidas já sofridas.
Esse expediente subterrâneo da manipulação de notícias transformou o jornalismo em instrumento de opressão para o gozo de interesses privados.
Prazer de quem publica, dor de quem vê.