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O discurso laudatório e delirante da ministra dos Direitos Humanos Luislinda Valois, que dedicou a Temer o título de “padrinho das mulheres negras brasileiras”, causou surpresa e indignação a quem nutria certo respeito e admiração à biografia de uma das primeiras juízas negras do país.
Contudo, uma análise mais cuidadosa e menos apaixonada da trajetória recente da ministra mostra que ao contrário do que parece, ela não é uma singularidade dentro do governo golpista. O palavrório recente no Palácio do Planalto, inclusive, não foi o único em que a ministra proferiu falácias que beiram o realismo fantástico.
“Hoje, como sempre, perseveramos no combate contra a corrupção, com o pleno empenho do Poder Público e total respeito ao devido processo legal e às garantias individuais preconizadas na Carta Magna Brasileira”, disse a ministra em discurso na ONU, em fevereiro.
Dizer isso a respeito da corrupção quando se está em um governo onde o chefe coleciona citações na operação Lava Jato, está inelegível por doações ilegais de campanha e tem nove ministros investigados na Lista de Fachin beira o absurdo.
É tão patético quanto afirmar que as mulheres precisam das ações de Temer, “do seu coração grandioso e da sua caneta que decide com galhardia e carinho”.
Talvez a ministra viva em um universo paralelo, no qual conspirar para afastar uma presidenta eleita democraticamente e exaltar a capacidade feminina de “indicar os desajustes de preços em supermercados” não sejam atos temperados por misoginia.
Chamar de defensor das mulheres um presidente empenhado em projetos deletérios para os mais humildes como a reforma da Previdência, a flexibilização da CLT e a lei da terceirização pode até parecer insólito.
Mas para uma ministra que ostentou um título inexistente da ONU e dizia ser a primeira juíza negra do país, a despeito de ter iniciado a carreira 20 anos depois da magistrada Mary de Aguiar Silva, o panegírico para Temer e seus asseclas adquire traços de normalidade.
No fim, tudo se explica. Ou “um tatu cheira o outro”, como dizia o filósofo contemporâneo Miguel Falabella.
Perto de Valois, Fernando Holiday, o negro que odeia negros, não passa de um bebezinho inofensivo.