Por Hildegard Bogossian
Na fase trevosa que viveu o país, eu me concentrei no embate político, deixando na sombra minha atividade na moda. Formei-me gente num ateliê de criação de moda, o que, em 1993, possibilitou/me fundar a primeira ONG de moda no país, o Instituto Zuzu Angel, e, no ano seguinte, a Academia Brasileira da Moda, que presido.
Durante alguns anos coordenei a eleição dos Mais Bem Vestidos do Brasil, sob a égide de Eleanor Lambert, coordenadora da Eleição dos Mais Bem Vestidos do Mundo, hoje realizada pela revista Vanity Fair.
Estrada longa, que me levou a dirigir a primeira instituição museológica de moda no Rio de Janeiro, Casa Zuzu Angel/Museu da Moda, reunindo importante acervo.
Tudo isso para dizer da minha experiência para comentar os figurinos da primeira-dama e da vice primeira-dama na posse do Governo Lula/Alckmin, hoje.
Janja Lula ousou um três peças muito bonitas, com pegada brasileira, casaco, colete, calças. Fosse peça única, um vestido, ela talvez ganhasse maior agilidade de movimentos dos braços para acenar ao povo. O tailleur sobre colete, com basque na cintura, terminando em aba ondulada nas costas, adicionou volume à silhueta feminina curvilínea de Janja, padrão cada vez mais raro – sorte dela – nessa era das musculosas e retilíneas das academias.
A cor dourada, em harmonia com seu tom de pele, foi um grande acerto, assim como ocorreu com Lu Alckmin, a quem o branco favoreceu a pele e os cabelos escuros.
A moda é um jogo de formas e cores, que pode trabalhar a favor de quem a veste.
Louve-se a preocupação demonstrada por Janja de, nas grandes ocasiões, como foi no casamento, valorizar a cultura brasileira através da moda.
Essa luta conheço, pois foi proposta pioneira de minha mãe, Zuzu Angel, que lançou a ‘moda brasileira com legitimidade’, valorizando com seu trabalho nossas raizes. Foi dura a batalha contra a moda colonizada de então. Hoje, ela ficaria feliz por ver o esforço da primeira-dama para consagrar sua proposta.
Obrigada, Janja, por seu empenho pela moda brasileira e seus legítimos criadores.
E quando Janja e Lu vierem ao Rio terei prazer em recebê-las no Museu Zuzu Angel.
Publicado originalmente em “Jornalistas pela Democracia”