Os tablóides ingleses são conhecidos pela sua agressividade. E pelos métodos pouco ortodoxos de conseguir furos sensacionais, em geral vinculados à vida sexual de celebridades ou a crimes que comovem a sociedade.
Qual o limite para eles?
Essa discussão está incendiando a Inglaterra nestes dias. Os tablóides – sempre no ataque – estão tendo que se defender como nunca acontecera antes.
A categoria toda está contra a parede, mas um tablóide, especificamente, domina a onda de ódio e fúria. É o mais velho deles, o News of the World, do grupo News Corporation, do controvertido magnata australiano Rubert Murdoch, radicado nos Estados Unidos.
O NW, domenical, tem quase 170 anos, e em seus dias de ouro chegou a vender mais de 8 milhões de exemplares. É provavelmente um recorde histórico para qualquer jornal de qualquer parte. Tão tradicional era o NW que num determinado momento foi definido como tão presente nas manhãs de domingo dos ingleses como “o sino das igrejas”.
O escândalo em torno do jornal veio do grampeamento de telefones. Calcula-se que as ligações telefônicas de 4000 pessoas tenham sido objeto de escuta. Caixas postais foram invadidas. Políticos e celebridades eram o alvo preferencial. Mas a indignação alçou vôo quando se soube que a escuta se estendera também a telefones de vítimas de crimes. Foram ouvidas criminosamente as mensagens telefônicas de uma garota assassinada aos 13 anos. Telefones de parentes de vítimas do atentado terrorista de 2005 também.
Os ingleses entenderam que era hora de dar um basta.
Jornalistas foram presos por conta do escândalo. Um deles, um antigo editor do NW, ocupara há pouco o cargo de diretor de comunicação do governo do primeiro-ministro David Cameron.
Há agora um clamor por um órgão fiscalizador mais severo para a mídia. O atual, para usar a expressão do líder da oposição trabalhista, se mostrou um “poodle sem dentes”.
Os ingleses tentam agora decifrar a atitude da News Corporation. A empresa decidiu simplesmente encerrar as atividades do jornal. Domingo sai a última edição. Não haverá anúncios. Toda a arrecadação com a venda dos exemplares será destinada a instituições de caridade.
Há aí, evidentemente, uma tentativa de melhorar a imagem terrivelmente desgastada da News Corporation e do próprio Murdoch, que construiu seu império a partir de tablóides. Mas o alcance é mínimo, diante da dimensão dos problemas.
Domingo é uma data histórica para o jornalismo inglês. Não apenas pela morte de um jornal de quase 170 anos – mas porque sua ausência é um sinal de que nunca mais a vida dos controvertidos, escandalosos irresponsáveis tablóides ingleses será tão fácil como tem sido.