E então ontem, na sessão da meia noite de um cinema em Denver, nos Estados Unidos, um homem armado e com uma máscara de gás entrou e foi matando as pessoas. Primeiro, ele jogou gás no cinema para que seu trabalho fosse facilitado. James Egan Holmes é seu nome, e ele tem 24 anos. Estuda, ou estudava, Neurociência. Era a estréia do novo Batman, e a platéia inicialmente pensou que o barulho dos tiros vinha do filme. A contagem, até o momento em que escrevo, está em 12 mortos e 59 feridos. (Entre os últimos, um bebê de três meses. O que o bebê estava fazendo numa sessão da meia noite tem intrigado muita gente.)
Por coincidência, faz um ano desde que, na Noruega, Anders Breivik, um fanático de direita, foi matando pessoas por entender que, assim, estava fazendo a Europa acordar para o avanço do islamismo.
São dois episódios essencialmente parecidos, mas que permitem observar diferenças abissais entre os Estados Unidos e a Noruega.
Breivik tinha uma causa, por mais absurda que fosse. Em sua mente tumultuada – se ele é louco ou não é uma questão ainda aberta – ele acreditava estar salvando os europeus.
A Noruega vem tratando o caso com serenidade. Estive em Oslo durante alguns dos dias em que a justiça ouviu Breivik e pessoas que podem contribuir para a compreensão do caso antes que o veredito seja feito.
Não foi criada lei especial nenhuma contra o terrorismo. A mídia não fez uma cobertura estridente e amedrontadora. Breivik teve a oportunidade de expor seus pontos. A Noruega não ficou alarmada, paranóica, intimidada. (Quando estive lá, os jovens davam muito mais atenção para um concerto de Justin Bieber do que para as sessões de Breivik.) “Temos que provar que somos melhores que o terrorismo”, disse um líder norueguês. Numa palavra, a Noruega opôs a civilização à barbárie personificada em Breivik.
Nos Estados Unidos, os assassinos em massa como Holmes matam por matar. Ponto. Não há causa, não há nexo, não há nada senão o impulso de destruição, reflexo de uma sociedade mentalmente doente e incentivada a comprar armas.
Na Noruega, a oposição não usou o caso Breivik com finalidades políticas. Nos Estados Unidos, em meio à espessa ignorância que cobre Holmes, já disseram nas redes sociais que ele é um democrata registrado. Também já afirmaram que pertence ao Tea Party. No twitter, alguém postou um vídeo no YouTube de um certo Holmes – o equivalente a Souza, Silva ou mesmo Nogueira no Brasil — de louvor ao Ocupe Wall Street para conectar o assassino ao movimento de protesto.
A Noruega dá uma lição de como lidar com um caso horroroso. Os Estados Unidos, uma antilição.