Um hábito macabro se espalha na internet. Fotos de vítimas de acidentes e homicídios são compartilhadas por meio do aplicativo WhatsApp a uma velocidade espantosa. Ainda no dia do acidente que matou o candidato à presidência Eduardo Campos já havia supostas fotos das vítimas e de partes do corpo circulando através do aplicativo.
Não bastassem os compartilhamentos de vídeos de tortura e pornografia involuntária já citados aqui no DCM, agora o aplicativo espalha imagens de violência antes mesmo da chegada da polícia à cena do crime.
Dias atrás uma adolescente suicidou-se no bairro onde moro. Eu não a conhecia. Soube porque passei em frente ao prédio por volta das 18 horas e vi uma movimentação anormal da Polícia Militar. Às 20 horas a foto da jovem morta passava de smartphone em smartphone.
Em outra situação, uma amiga me pediu para deletar imagens que recebera pelo celular. Ela não teve estômago nem para apagá-las. Eram de uma moça violentada e assassinada pelo namorado. Os abutres do WhatsApp fizeram o trabalho completo: havia o vídeo do estupro, fotos da vítima no local da ocorrência e no velório.
A divulgação de imagens de tragédias pela internet não é novidade. Nos anos 90, fotos como as do acidente da banda Mamonas Assassinas eram compartilhadas por disquetes ou e-mail. Porém, levavam meses ou até anos para chegar ao público.
Hoje elas aparecem em minutos. Bastam três toques e um motoqueiro que acabou de morrer no trânsito, por exemplo, vai para a rede. Há sempre alguém disposto a apontar o smartphone e tirar uma foto do corpo inerte sem respeito à vitima ou a seus familiares. A velocidade do WhatsApp atropela o espaço para ponderações.
Dias atrás a filha do ator Robin Willians recebeu supostas fotos do pai morto dois dias antes. Abalada pelo suicídio, Zelda Willians ficou ainda pior por causa das fotos e encerrou sua conta no Twitter. As fotos partiram de um ataque de “trolls” que pode ser considerado um caso isolado.
Mas é provável que aqui no Brasil alguma anônima tenha passado por dor semelhante à de Zelda ao receber a foto do familiar morto. Com mais de 50 mil vítimas de homicídio, 60 mil mortos no trânsito ao ano e um batalhão disposto a espalhar o horror pelo WhatsApp, isso deve ser até corriqueiro.