A nova tragédia Argentina. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de abril de 2023 às 17:44
Alberto Fernández e Javier Milei. (Foto: Reprodução)

Alberto Fernández poderia ter sido o Fernando Haddad argentino que chegou ao poder e deu certo. Mas deu errado.

É professor universitário, culto, cordial, um cara legal em meio às truculências da política de um país sempre em crise e ainda com sequelas da ditadura.

Assumiu dizendo que governaria sem deixar de ser professor. Abriu o governo à diversidade, compartilhou o poder com as diferenças, chamou assessores LGBTQI+ (a ministra das Mulheres e da Diversidade, Ayelén Mazzina, é lésbica), foi pioneiro na América Latina na vacinação contra a Covid e dedicou-se a combater a miséria, mas fracassou.

Pegou um país quebrado por Mauricio Macri e não conseguiu reabilitar a economia. Quem, nas mesmas circunstâncias, conseguiria?

Cristina Kirchner, com quem se desentendeu, também é considerada quase fora da eleição de outubro, mesmo que a dúvida continue.

Com inflação de 100% e desemprego, a Argentina abre as portas para o fascismo de Javier Milei, o economista e deputado de extrema direita considerado o Bolsonaro deles.

Não há nomes fortes do peronismo, e os argentinos se encaminham para mais um tango trágico, desta vez com a eleição de um extremista, porque nem o macrismo sem Macri, que tem base política, talvez consiga enfrentá-lo.

O jornal Página 12 fez um levantamento da atuação de Milei no Congresso. Não aparece para trabalhar, não frequenta comissões, não conversa com ninguém e não apresenta projetos.

Em quase tudo é semelhante a Bolsonaro. Lidera uma coalizão chamada Liberdade Avança, uma pilantragem da direita antissistema.

Simplifica a abordagem de problemas complexos, ataca a política, debocha dos movimentos sociais, é aliado de negacionistas. Mas conquista principalmente os jovens.

É uma realidade assustadora. A ascensão de Milei ao poder pode acabar com o peronismo na sua versão kirchnerista.

São tempos terríveis para a democracia, os movimentos sociais e as esquerdas. O Brasil e Lula também sofrerão muito.

É tão desolador que até o vídeo de despedida de Fernández nos apresenta a um homem já sem vitalidade na voz, mesmo que sempre fale baixo.

Falta a eloquência da despedida. O presidente sai abalado, destruído, e narra o vídeo usando apenas imagens de arquivo, sem mostrar o rosto hoje.

Abaixo, o vídeo em que Fernández anuncia a desistência:

Publicado originalmente no blog do autor

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