O fisiculturismo é frequentemente associado ao uso de esteroides anabolizantes, hormônio de crescimento (GH) e outras substâncias para aumento da massa muscular e redução de gordura. Essas substâncias podem proporcionar vantagens significativas em termos de desempenho e aparência, mas a longo prazo trazem riscos à saúde e efeitos colaterais violentos.
A operação da Polícia Federal contra o bolsonarista e influenciador fitness Renato Cariani, suspeito de envolvimento em um esquema de desvio de produtos químicos destinados à produção de crack e cocaína, joga luz sobre as complexidades envolvidas na comercialização e uso de substâncias ilícitas no fisiculturismo.
A pressão para atingir um físico idealizado no mundo fitness, amplificada pelas redes sociais e pela cultura da imagem, pode levar alguns a recorrerem ao uso de esteroides. A história da trembolona, um dos anabolizantes mais potentes e populares nesse meio, ilustra como substâncias desenvolvidas para um propósito específico podem ser desviadas para usos não intencionados e potencialmente perigosos.
Originalmente desenvolvida para uso na agropecuária, seu principal objetivo era melhorar a eficiência alimentar e promover um crescimento muscular mais rápido em bovinos. A trembolona ajudava os animais a converter alimentos em massa muscular com mais eficiência, sendo assim amplamente utilizada em fazendas para maximizar o ganho de peso do gado.
A eficácia da trembolona em promover o crescimento muscular não passou despercebida pelos fisiculturistas. Apesar de seu uso originalmente veterinário, ela começou a ser utilizada nos anos 1980 pela sua capacidade de aumentar rapidamente a massa muscular e reduzir a gordura corporal, tornando-se uma das substâncias mais desejadas para melhorar o desempenho e a estética física.
Apesar de sua popularidade, o uso de trembolona em humanos não é aprovado por agências reguladoras de saúde, como a FDA nos Estados Unidos. Seu uso pode levar a efeitos colaterais graves, incluindo problemas cardiovasculares, alterações hormonais, efeitos psicológicos adversos e até mesmo risco de dependência. A compra e venda do produto para uso humano é ilegal em muitos países, incluindo o Brasil.
A missão de educar a nova geração sobre os perigos do “suco” (termo coloquial para os esteroides) tem sido desempenhada pelo nutricionista Rodrigo Góes. Ele é conhecido por abordar a questão dos “fake nattys” no fisiculturismo, ou seja, aqueles que alegam alcançar resultados fisicamente impressionantes de forma natural, mas que, na realidade, podem estar utilizando substâncias proibidas para melhorar o desempenho.
Essa prática pode levar a uma percepção distorcida e inalcançável do que é possível sem o uso de substâncias, impactando negativamente as expectativas de atletas e entusiastas do fitness. Góes se tornou o maior fenômeno da internet em 2023 por, de forma bem humorada e com uma “análise minuciosa”, expor influenciadores e famosos que talvez usem o suco.
Rodrigo Góes já apontou, por exemplo, em um de seus vídeos no YouTube, que o médico bolsonarista Paulo Muzy, amigo de Cariani, é “fake natty”, após examinar imagens e vídeos do influenciador treinando.
Segundo Marcelo Bichels, da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), há um uso crescente de esteroides anabolizantes entre adolescentes e jovens, muitas vezes sem consciência dos riscos envolvidos. Esse “efeito rebanho” nas academias e a disseminação de imagens de corpos musculosos nas redes sociais contribuem para a percepção errônea de que os benefícios superam os riscos.
Um estudo realizado em Curitiba revelou que a maioria dos usuários de esteroides anabolizantes o fazem por razões estéticas, não terapêuticas. Surpreendentemente, uma parcela significativa desses usuários adquire os medicamentos através de prescrições médicas ou de amigos, o que destaca uma prática preocupante de prescrição e distribuição dessas substâncias.