Poucas coisas explicam tanto o Brasil de hoje como a comparação entre a Paraty House da família Marinho e o sítio de Atibaia.
A Paraty House, já conhecida nas mídias sociais como o Triplex dos Marinhos, é o triunfo da plutocracia nacional. Luxuosa, paradisíaca, foi erguida à revelia da legislação ambiental.
Mas o que é lei para os Marinhos?
Existem dois tipos de brasileiros. Os sujeitos às leis e os Marinhos. Para eles tudo é possível: construir onde é proibido, sonegar impostos, terceirizar descaradamente salários altos para fugir dos encargos.
E, claro, erguer uma afronta à sociedade como a Paraty House.
Nada é escândalo para eles porque a mídia fica em silêncio, em parte por temer retaliações, em parte por solidariedade indecente de classe.
Na reportagem de Renan Antunes que o DCM publicou ontem, e que viralizou, está contado o caso de um funcionária ambiental cujo carro foi queimado enquanto ela investigava o Triplex dos Marinhos.
O que fez a Folha, ou a Veja, ou que publicação que seja? Deu voz a uma vítima sem voz? A imprensa brasileira não deu uma única linha sobre o carro incendiado.
Porque a Globo está acima da lei.
Fiscais da sociedade, como a Globo gostaria de ser vista, devem obrigatoriamente ter uma conduta acima de quaisquer dúvidas, ou são um escárnio.
É exatamente o que é a Globo: um escárnio. Produz editoriais moralistas e ao mesmo tempo, longe das luzes, comete crimes que aos outros traria consequências pesadas.
A sorte da sociedade brasileira é que a ascensão da internet destruiu a blindagem em torno da empresa dos Marinhos.
Sites verdadeiramente independentes, como o DCM, e as redes sociais escancaram suas delinquências e sua hipocrisia.
Para evocar uma frase célebre de Churchill sobre a Segunda Guerra, não é o fim. Nem o começo do fim. Mas é o fim do começo.
O fim do começo do fim da Globo.
Porque uma organização como esta dos Marinhos só pode sobreviver com o acobertamento das coisas que faz na escuridão.
Enquanto isso, manchetes e mais manchetes infestam a mídia tradicional com vazamentos sobre o sítio de Atibaia.
Uma canoa simplória já foi tratada como se fosse um iate. Agora é a vez de 37 caixas de cerveja. Repito: 37 caixas de cerveja.
A mesma Polícia Federal que jamais se ocupou da Paraty House – e muito menos de meia tonelada de pó de cocaína num helicóptero de um amigo de Aécio — oferece para a mídia sequiosa cerveja.
Aí já passamos a etapa da piada. Cocaína em escala industrial num helicóptero não é nada e cerveja num sítio é primeira página.
Para simbolizar a inversão de valores, temos uma imagem preciosa: a de João Roberto Marinho com e o juiz Sérgio Moro, num prêmio entregue pela Globo.
É o retrato perfeito do Brasil, onde a aliança entre a plutocracia e a Justiça confraternizam, sorridentes. Tudo dominado.
Mas os tempos mudaram.
A internet é um dado novo que escancara essa aliança sinistra, para o bem de todos nós.
ATUALIZAÇÃO
A advogada Mariana Gaspar enviou ao DCM o seguinte email:
Prezados Senhores,
JOÃO ROBERTO MARINHO, brasileiro, casado, jornalista, com endereço profissional na Rua Lopes Quintas 303, Jardim Botânico, na cidade e Estado do Rio de Janeiro, vem, por meio da presente, NOTIFICÁ-LO do que se segue:
A notícia é inverídica, pois a casa em questão e as empresas citadas na matéria não pertencem, direta ou indiretamente, ao notificante ou a qualquer um dos demais integrantes da família Marinho.