A Paraty House versus o sítio de Atibaia. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 18 de fevereiro de 2016 às 18:34
A plutocracia pode tudo: a Paraty House dos Marinhos
A plutocracia pode tudo: a Paraty House dos Marinhos

Poucas coisas explicam tanto o Brasil de hoje como a comparação entre a Paraty House da família Marinho e o sítio de Atibaia.

A Paraty House, já conhecida nas mídias sociais como o Triplex dos Marinhos, é o triunfo da plutocracia nacional. Luxuosa, paradisíaca, foi erguida à revelia da legislação ambiental.

Mas o que é lei para os Marinhos?

Existem dois tipos de brasileiros. Os sujeitos às leis e os Marinhos. Para eles tudo é possível: construir onde é proibido, sonegar impostos, terceirizar descaradamente salários altos para fugir dos encargos.

E, claro, erguer uma afronta à sociedade como a Paraty House.

Nada é escândalo para eles porque a mídia fica em silêncio, em parte por temer retaliações, em parte por solidariedade indecente de classe.

Na reportagem de Renan Antunes que o DCM publicou ontem, e que viralizou, está contado o caso de um funcionária ambiental cujo carro foi queimado enquanto ela investigava o Triplex dos Marinhos.

O que fez a Folha, ou a Veja, ou que publicação que seja? Deu voz a uma vítima sem voz? A imprensa brasileira não deu uma única linha sobre o carro incendiado.

Porque a Globo está acima da lei.

Fiscais da sociedade, como a Globo gostaria de ser vista, devem obrigatoriamente ter uma conduta acima de quaisquer dúvidas, ou são um escárnio.

É exatamente o que é a Globo: um escárnio. Produz editoriais moralistas e ao mesmo tempo, longe das luzes, comete crimes que aos outros traria consequências pesadas.

A sorte da sociedade brasileira é que a ascensão da internet destruiu a blindagem em torno da empresa dos Marinhos.

Sites verdadeiramente independentes, como o DCM, e as redes sociais escancaram suas delinquências e sua hipocrisia.

Para evocar uma frase célebre de Churchill sobre a Segunda Guerra, não é o fim. Nem o começo do fim. Mas é o fim do começo.

O fim do começo do fim da Globo.

Porque uma organização como esta dos Marinhos só pode sobreviver com o acobertamento das coisas que faz na escuridão.

Enquanto isso, manchetes e mais manchetes infestam a mídia tradicional com vazamentos sobre o sítio de Atibaia.

Uma canoa simplória já foi tratada como se fosse um iate. Agora é a vez de 37 caixas de cerveja. Repito: 37 caixas de cerveja.

A mesma Polícia Federal que jamais se ocupou da Paraty House – e muito menos de meia tonelada de pó de cocaína num helicóptero de um amigo de Aécio — oferece para a mídia sequiosa cerveja.

Aí já passamos a etapa da piada. Cocaína em escala industrial num helicóptero não é nada e cerveja num sítio é primeira página.

Para simbolizar a inversão de valores, temos uma imagem preciosa: a de João Roberto Marinho com e o juiz Sérgio Moro, num prêmio entregue pela Globo.

É o retrato perfeito do Brasil, onde a aliança entre a plutocracia e a Justiça confraternizam, sorridentes. Tudo dominado.

Mas os tempos mudaram.

A internet é um dado novo que escancara essa aliança sinistra, para o bem de todos nós.

 

ATUALIZAÇÃO

A advogada Mariana Gaspar enviou ao DCM o seguinte email:

Prezados Senhores,

JOÃO ROBERTO MARINHO, brasileiro, casado, jornalista, com endereço profissional na Rua Lopes Quintas 303, Jardim Botânico, na cidade e Estado do Rio de Janeiro, vem, por meio da presente, NOTIFICÁ-LO do que se segue:

A notícia é inverídica, pois a casa em questão e as empresas citadas na matéria não pertencem, direta ou indiretamente, ao notificante ou a qualquer um dos demais integrantes da família Marinho.