A participação de Erundina e Freixo nos debates é uma vitória da democracia. Por José Cássio

Atualizado em 2 de setembro de 2016 às 0:55
Eruca
Eruca

 

Finalmente os eleitores do Rio e São Paulo poderão acompanhar os debates eleitorais pela TV com a presença de seus principais candidatos.

Luiz Erundina, que por uma mesquinhez de João Doria (PSDB), Marta Suplicy (PMDB) e Major Olímpio (SD) ficou de fora do debate da Band, tem presença confirmada no confronto que a RedeTV promove nesta sexta, 2.

Marcelo Freixo, que foi impedido por Pedro Paulo (PMDB) e Flávio Bolsonaro (PSC), também é presença garantida na mesma emissora na semana que vem.

Conforme regra eleitoral, a participação nos debates estava assegurada apenas aos candidatos dos partidos que possuem ao menos 10 representantes na Câmara dos deputados. A presença dos demais era facultativa e dependia da aprovação de dois terços dos candidatos aptos.

Erundina e Freixo não se calaram diante da injustiça.

A candidata protestou na porta da Band, enquanto Freixo optou por promover paralelamente um debate nas ruas do Rio, no qual respondia às perguntas do público e comentava as falas de seus concorrentes.

Na semana passada, enfim o Supremo Tribunal Federal (STF) se rendeu e decidiu que as emissoras podem definir quais candidatos às eleições municipais deste ano irão ou não participar. Com isso, a participação de Erundina e Freixo ficou liberada, independentemente da boa vontade dos rivais.

Proibir a participação de uma ex-prefeita nos debates é um atentado à democracia.

Primeira mulher a ser eleita para o cargo, Erundina tem uma trajetória política notável. Sua participação em momentos históricos, como a fundação do PT em 1980, aliada a sua atuação em prol dos movimentos populares, faz dela uma líder querida e respeitada.

Isso para não dizer da boa colocação nas pesquisas: ocupa o terceiro lugar no Datafolha, com 10%, atrás de Marta, com 16%, e à frente de Fernando Haddad (PT), com 8%.

Também seria um absurdo impedir a presença de Freixo, considerando sua colocação no mesmo Datafolha, onde aparece em segundo lugar, com 11%, à frente de Bolsonaro, 9%, e Pedro Paulo, com 5%.

Para entender porque a exclusão de Erundina e Freixo é conveniente aos adversários, basta observar o histórico de ambos e trajetória recente do próprio Psol.

O partido tornou-se uma fonte de resistência e inspiração em meio à degeneração institucional que o país enfrenta. Em concordância com seus valores, ficou até o fim ao lado de Dilma contra o golpe e, agora, busca seu espaço nas ruas.

Um exemplo, e que foi relatado aqui no DCM, é a ida de Erundina à Vila Madalena, onde circulou e conversou com as pessoas. Não fez como Doria, cuja presença mal foi percebida, ou como não fez Marta.

Aliás, teria a candidata do PMDB coragem de enfrentar um público antenado como o que frequenta a Feira da Vila, assim como fez Erundina?

Já Freixo, conhecido defensor dos Direitos Humanos, foi eleito deputado estadual pelo Psol em 2006 e ganhou notoriedade ao presidir a CPI das Milícias, em 2008. Por conta dela, recebeu  ameaças de morte e teve que fazer sua campanha à reeleição acompanhado de seguranças.

Já passou da hora de o Rio de Janeiro ter um prefeito com foco social, considerando que a cidade tem sofrido com as trapalhadas de Eduardo Paes.

Para citar apenas uma, note-se a queda da ciclovia Tim Maia em abril deste ano. Não bastasse a gravidade do acidente, descobriu-se depois que a empreiteira responsável pela construção da obra pertencia à família do secretário de Turismo da cidade.

A presença de Erundina e Freixo nos debates é imprescindível para tornar o processo eleitoral mais justo e democrático e marca de fato o início da campanha.

Com o jogo zerado, poderemos ver na real quem está mais preparado e tem as melhores intenções para comandar a partir do ano que vem os destinos das duas principais cidades do país.