A Portuguesa é a coitadinha oficial do futebol paulista e, como tal, desperta comiseração e simpatia. É o segundo time de muita gente que acredita em segundo time.
Nos jogos com o Corinthians, era comum a Gaviões da Fiel dedicar um tempo para contar cada um dos torcedores da Lusa. Os corintianos apontavam o dedo para a arquibancada e começavam: “1, 2, 3, 4…” Os Leões da Fabulosa tinham fama de ser violentíssimos, mas ninguém era capaz de encontrá-los.
Hoje, na Paulista, havia uma manifestação de torcedores contra a ameaça de rebaixamento. “Ô, Fluminense, vai se foder/Está na hora de pagar a série B”, umas 200 pessoas gritavam. Deram uma volta na praça que fica no final da avenida, quase na Consolação, e retornaram. Tudo numa boa. Mais ordeiro que os protestos do Cansei.
A Lusa está sendo vítima de si mesma e da bagunça generalizada do campeonato brasileiro. Na segunda, será julgada pelo STJD por ter relacionado o meia Héverton no 0 a 0 contra o Grêmio no Canindé. O jogador não poderia ter sido usado porque havia recebido o cartão vermelho duas rodadas antes. Só cumpriu um jogo da suspensão, quando o correto eram dois. O clube não teria sido avisado pelo advogado Osvaldo Sestário, que o representou no tribunal, sobre a punição das duas partidas.
É uma desculpa esfarrapada, provavelmente. Mas por que só a Portuguesa seria punida se a Justiça havia livrado equipes em situações irregulares semelhantes por entender que não “houve intenção” de prejudicar o certame?
Um dos casos foi o da partida entre Vasco e Cruzeiro no dia 23 de novembro. O Cruzeiro tinha no banco o goleiro Elisson, cujo contrato estava vencido. A outra equipe absolvida com o mesmo argumento é o Duque de Caxias, na série C, por escalar o atacante Rafinha, que estava sem contrato. Embora tenha perdido 15 pontos em primeira instância, o Duque de Caxias conseguiu reverter a situação no STJD, afirmando que o erro foi da federação fluminense.
Em 2010, o Fluminense se deu bem. O meia Tartá foi escalado irregularmente. A denúncia ocorreu a posteriori e o tricolor carioca nem foi a julgamento. Se fosse aplicada a lei, perderia quatro pontos e a taça para o Cruzeiro. Na época, o procurador geral do STJD, Paulo Schmidt, disse o seguinte: “Rediscutir o título que foi conquistado no campo de jogo, da forma que foi, abre precedente não só para o Cruzeiro, mas para vários clubes discutir tudo isso”.
Se a Portuguesa cair, o Fluminense tem de devolver a taça de 2010, o que, obviamente, não vai acontecer. A Lusa errou. Mas como ignorar a longa lista dos que se safaram? A Portuguesa é a coitada de sempre num futebol vergonhosamente desorganizado, onde a Justiça, uma piada, vale mais para uns que para outros e está do lado de quem pode mais — ou seja, como o Brasil. Comigo: “Ô Fluminense, vai se foder, está na hora de pagar a série B”.