No dia 3 de abril, manifestantes pró-impeachment estiveram num show da banda U2 cover na Avenida Paulista, diante do pato da FIESP. O barulho podia ser ouvido dentro do metrô Trianon, onde a moça do caixa tentava tapar os ouvidos.
O equipamento destoava do usado pelos demais artistas que tocam na região. Era profissional e feito para causar. Ficava claro que, naqueles quarteirões próximos, o terreno tinha dono.
Os protestos na frente da federação chefiada por Paulo Skaf começaram em março, com direito a Tropa de Choque da PM dispersando os manifestantes depois que eles fecharam a Paulista por dois dias. Eles foram expulsos com jatos d’água e voltaram em menor número para acampar na calçada. Estão lá há mais de um mês.
A sua Guarda Civil Metropolitana (GCM) não faz nada. Deveria? Poderia? O show do U2 cover, por exemplo, não é poluição sonora e infringe o Programa de Silêncio Urbano (PSIU)?
Sujeitos armados de paus podem ficar ali numa boa?
A prefeitura diz que o show foi feito no período da tarde e que não pode ser enquadrado na chamada “Lei do Silêncio”. O PSIU contempla apenas os abusos de poluição sonora que ocorrem em bares, boates, restaurantes, salões de festas, templos religiosos, indústrias e obras em construção.
Questionei também sobre os panos verdes e amarelos que são estendidos na calçada pública junto dos acampamentos. Nada que impeça o trânsito de pedestres ou de carros está fora da regularidade.
A verdade é que a turma de Skaf faz o que quer. Se a prefeitura fecha os olhos, a PM do governo do Estado, de seu lado, os protege.
Qual a diferença entre essa ocupação do espaço público e as invasões de imóveis no centro da cidade feitas pelo MTST? “Não cabe à prefeitura intervir como ocorrem em reintegração de posse realizada pela PM do governo estadual. Eventuais confrontos lidam com a proteção do patrimônio público, que é uma atribuição da gestão Alckmin”, é a resposta.
O secretário da Coordenação das Subprefeituras é Luiz Antonio Medeiros, que assumiu o cargo no dia 12 de junho de 2015. Ele é responsável pelas 32 administrações regionais e pelos principais serviços de zeladoria da cidade de São Paulo.
Medeiros foi fundador e ex-presidente da Força Sindical ao lado de Paulinho em 91. Atualmente filiado ao Partido Liberal (PL), foi militante de esquerda na ditadura, mas se opunha a Lula e ao PT desde a ascensão dos trabalhadores de São Bernardo do Campo nos anos 80.
Ex PFL, não quer desagradar os aliados de seu amigo, que vão desde Aécio Neves, passando por Eduardo Cunha e Michel Temer.
Medeiros era defensor do “sindicalismo de resultados”. Ele coordena a equipe de subprefeitos que deveria cuidar da cidade, inclusive inibindo abusos num acampamento numa das artérias principais da capital.
Medeiros e a prefeitura estão lavando as mãos para um abuso visível, um sequestro de um pedaço de São Paulo.
A assessoria da Secretaria de Comunicação (SECOM) esclarece à reportagem do DCM que:
Luiz Antonio Medeiros, atualmente no PDT, exerce sua função de secretário da Coordenação das Subprefeituras sem nenhum conflito de interesses. Seu atual partido, inclusive fechou contra o impeachment de Dilma Rousseff. Conta em seus quadros com Ciro Gomes e Netinho de Paula, ex-PCdoB.