Publicado originalmente no blog do autor
POR ALBERTO CARLOS ALMEIDA, cientista político
A julgar pela crise do arroz, o Brasil não tem presidente. É fato que o acaso e os acontecimentos fortuitos são parte da vida e, como tal, da política. O segundo mandato de Fernando Henrique foi iniciado com uma crise cambial monumental que teve um impacto muito negativo na avaliação de seu governo. Todavia, ainda em 1999 a sua popularidade voltou a melhorar lentamente, manteve esta trajetória em 2000 e, quando todos imaginavam que o presidente entraria no ano eleitoral na crista da onda, veio a crise do racionamento de energia no primeiro semestre de 2001. O restante da história todos nós conhecemos. Tratou-se do acaso.
Quem acompanha e participa da política sempre acha que é possível controlar tudo. Isso, todavia, é uma quimera. As pessoas argumentam que o Ministro das Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso, José Jorge do então PFL, poderia ter monitorado melhor o nível dos reservatórios e ter realizado investimentos que evitariam o pior. É fácil afirmar isso depois que a tragédia acontece. Os seres humanos têm limitações cognitivas, sociais e políticas que o impedem de antecipar todos os desastres. Se não fosse o racionamento de energia elétrica, talvez outra coisa tivesse ocorrido que viesse a impedir, como aconteceu, que o PSDB mantivesse a presidência na eleição de 2002.
Trazendo este raciocínio para a crise do arroz que agora se abate sobre o Governo Bolsonaro, é possível afirmar que o acaso levou a isso, até aí, tudo bem, acontece com qualquer presidente. Contudo, o que surpreende é a incapacidade de Bolsonaro e de seus auxiliares de regirem ao problema. A impressão que passa para a sociedade é que não há um presidente no cargo, mas sim um fanfarrão preocupado com questiúnculas, em vez de se dedicar com afinco aos principais problemas da população.
Bolsonaro pagará um preço por esta crise, e ele será cobrado em pontos percentuais na aprovação de seu governo.