A prisão de Cunha pavimenta ainda mais a candidatura Moro construída pela Globo. Por Mauro Donato

Atualizado em 20 de outubro de 2016 às 9:31
É nois
É nois

Na escalada de manchetes do Jornal Nacional só dá ele há pelo menos dois anos. ‘O juiz Moro decretou’, ‘foi a pedido de Sergio Moro’, narram naquela bancada de acrílico. Tudo acompanhado de fotos e imagens do juíz quando o foco do assunto é outro. Se isso não é propaganda (ou campanha), o que é?

Como não poderia deixar de ser, ontem não foi diferente diante da prisão do ex-presidente da Camara dos Deputados Eduardo Cunha.

Em que outra situação isso ocorre? O leitor vê tanto destaque para juízes que determinam alguma ação? Além de Sergio Moro, outros juízes do Rio de Janeiro e de Brasília do DF estão com processos contra Cunha em suas mesas, mas sobre esses juízes você já ouviu falar alguma coisa? Sabe seus nomes?

Um enorme percentual dos fatos noticiosos é gerado por uma determinação judicial, mas nem o nome do sacripanta é mencionado quanto mais incensado, aplaudido, venerado, idolatrado. O resultado era previsível: pessoas trajando camisetas com a inscrição ‘Sergio Moro para presidente’ foram vistas em todas as manifestações organizadas em torno do impeachment de Dilma Rousseff.

Eduardo Cunha possui conteúdo explosivo maior que Marcelo Odebrecht e vai vender caro sua delação. O clima de medo ronda a capital federal e a hecatombe que pode se estabelecer daqui a algumas semanas faz com que a Globo vá solidificando a imagem de Sergio Moro como o herói nacional. Tudo isso num cenário em que a economia não dá sinais de recuperação, mesmo com Dilma degolada. Michel Temer está sendo poupado temporariamente, as notícias são veiculadas como se ele e sua equipe não tivessem responsabilidade alguma, a crise é mundial, etc etc.

Calma, leitor, estão só esperando o momento certo pois a fórmula para levar a cabo o projeto ‘salvador da pátria’, que ergue criaturas como Fernando Collor ou Silvio Berlusconi, já está preparada. Fórmula tão batida quanto eficaz pois repetida após grandes intervalos.

A prisão de Cunha é um fato com dois propósitos: dá uma limpada na barra de Moro que andava suja pois já é unanime a opinião de que se trata de um reincidente autoritátrio; deixa o caminho menos pedregoso para pedir a de Lula. Não há outro motivo. Alegar agora que ela se deu ‘para evitar obstrução da Justiça e reiteração do delito, além de dificultar a dispersão de montantes ainda não recuperados – cerca de US$ 13 milhões – e impedir a fuga’ é tratar a todos nós como imbecis. Agora é que Cunha iria sumir com provas? Só agora ele iria começar a se preocupar em triturar papéis ou fugir? Tenha dó, o camarada ali não é iniciante na arte.

Há inquérito contra ele há mais de dez anos. Seu caso está no STF há mais de um ano sem aqueles magistrados celebridades se coçarem. O processo de cassação de seu mandato foi o mais longo da história. Mas foi o mote encontrado e, assim como o golpe, passou pela ingênua opinião pública.

Encarcerar Lula é algo que Sergio Moro, a Globo e demais conspiradores vêm examinando com muito cuidado. Por isso Cunha ter ido para Curitiba antes que o petista pode ter pavimentado as duas coisas: o pedido de prisão do ex-presidente e uma candidatura Moro quando nada mais estiver em pé.

O país está à beira da convulsão. Os protestos contra a PEC 241 vêm crescendo assim como o descontentamento em vários segmentos (o movimento estudantil, embora você não esteja vendo na TV, se agiganta. Já são mais de 300 escolas ocupadas em todo o país contra a reforma do ensino anunciada pelo governo Temer). Tudo isso porque um impeachment irresponsável foi articulado e agora as consequências começam a bater na porta.

No cenário de terra arrasada que eles mesmos contribuíram para implantar, Sergio Moro e Globo agora estão com Cunha nas mãos e deixam o governo Temer e seus comparsas tucanos com o c# na mão. 2018 terá o presidente que a Globo quer?