A promiscuidade entre Globo e MP chega ao máximo: “cadeia na TV”. Por Fernando Brito

Atualizado em 27 de novembro de 2017 às 7:17

Publicado no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

O Fantástico da noite de domingo superou todos os graus imagináveis de promiscuidade entre uma emissora de televisão e uma instituição parajudicial, o Ministério Público.

O MP cedeu ao programa global todas as imagens de uma “vistoria” que realizou no presídio de Benfica, no Rio, e às celas de Sérgio Cabral, Anthony Garotinho, Jorge Picciani e de Rosinha Matheus e da mulher de Cabral, Adriana Ancelmo (na imagem reproduzida acima).

Um exposição mórbida que nenhum ser humano, nem mesmo meu pior inimigo, merece.

Carregar presos em carroças pela praça pública é prática medieval.

Não me prendo, porém, às minhas opiniões.

Uso as da presidente do Supremo, a Ministra Cármem Lúcia que, ao que tudo indica, fará cara de paisagem diante deste abuso:

Vivemos, nos tempos atuais, o Estado-espetáculo. Porque muito velozes e passáveis, as imagens têm de ser fortes. A prisão tornou-se, nesta nossa sociedade doente, de mídias e formas sem conteúdo, um ato de grande teatro que se põe como se fosse bastante a apresentação de criminosos e não a apuração e a punição dos crimes na forma da lei.(…)
O ser humano não é troféu para ser apresentado por outro, inclusive com alguns adereços que podem projetar ainda mais uma situação vexaminosa e de difamação social (Habeas Corpus nº 91.952/SP)

Se as palavras da presidente da Suprema Corte não são um exercício de hipocrisia, a esta altura a equipe do Ministério Público que entregou à Globo, para sensacionalismo, as imagens de uma ação funcional que invade a intimidade a que todo ser humano, mesmo preso, tem direito, estaria afastada.

Os juízes com a função de execução penal estariam pulando nos cascos, porque são “seus” presos, não do MP.

Quando cheguei ao governo do Estado, com Brizola, compramos uma imensa briga. É que era praxe a polícia pegar o acusado pelos cabelos e levantar seu rosto para as câmaras dos fotógrafos e para a TV.

Fomos acusados de proteger bandidos, por causa deste simples gesto de civilização.

Bandido é todo o que viola a lei em grupo (bandido, bando, grupo).

É como procede o Ministério Público, neste caso.

E bandido tem de ser punido.